A lição de democracia e resistência dos estudantes que ocupam a Assembleia em SP. Por Mauro Donato

Atualizado em 4 de maio de 2016 às 10:22
Não vai ter arrego
Não vai ter arrego

 

Já passava da meia-noite quando Chico César empunhou o violão e cantou no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP). O cantor foi levar seu apoio aos estudantes que resolveram ocupar a ‘casa do povo’ no final da tarde de ontem e que ali prometem ficar até que seja aberta uma CPI para investigar desvios de dinheiro na máfia da merenda.

“Estamos aqui em consequência de uma truculência que vem por parte do governo do Estado de São Paulo. Alckmin tentou fazer uma reforma que se traduz no sucateamento da educação sem discutir com ninguém , sem escutar ninguém. Por isso as escolas foram ocupadas e estão sendo reocupadas”, disse Chico ao DCM.

“Os estudantes aqui estão lutando por melhorias na educação, por punição contra a máfia da merenda. Porque em vez das pessoas que roubam serem punidas, elas são premiadas, promovidas e os estudantes acenam para a sociedade e para o governo: basta”.

A ocupação foi coordenada entre estudantes e vários movimentos estudantis como UNE, UBES, UPES, UJS. Pelo menos duas barracas já estavam armadas.

“Ficaremos aqui até obtermos as assinaturas necessárias para a instalação da CPI. Eles têm feito de tudo para esvaziar as sessões e dificultar o processo, então resolvemos pela ocupação”, disse Carina Vitral, da UNE.

Tão logo os jovens entraram, o presidente da ALESP, Fernando Capez, um dos suspeitos de envolvimento com a máfia, reagiu afirmando ser ‘uma vergonha o que estava acontecendo’ e deixou o plenário.

“Vergonha é roubar merenda de criança”, afirmou Carina Vitral. Fernando Capez retornou alguns minutos depois e anunciou que se reunirá com os estudantes nesta quarta-feira, mas não definiu um horário.

É muito provável que a reunião ocorra ao mesmo tempo em que outro grupo de estudantes esteja numa audiência de conciliação com um juiz da Vara da Fazenda Pública, no centro da cidade.

No final da tarde de ontem, enquanto o grupo de movimentos estudantis ocupava a ALESP, a ocupação do Centro Paula Souza recebia das mãos de um oficial de justiça a intimação para a audiência que tratará, entre outras coisas, da reintegração de posse e das reivindicações dos alunos.

Algumas horas antes da chegada do oficial de justiça, o promotor público João Paulo Faustinoni Silva esteve na ocupação disposto a esclarecer algumas dúvidas que os alunos tivessem a respeito da audiência. Faustinoni faz parte do Grupo de Atuação Especial para Educação (GEDUC) do Ministério Público de São Paulo.

O governo paulista diz que foi vítima da máfia da merenda e que colabora com a investigação. Afirma também que não falta comida nas escolas e que não há “qualquer processo de reorganização em curso”. Capez nega, de maneira patética, participação no esquema.

Os estudantes querem prender o ladrão de merenda e estão na luta quase sozinhos. Quase.  E não por muito tempo. Mas tem gente bicuda do outro lado. A briga tem sido boa. Os blindados de sempre nunca acreditaram que fossem encontrar pela frente uma meninada tão dura na queda. “Não tem arrego”, não se cansam de entoar. Ainda duvida?

 

estudantes3

Capez jogou pesado e mandou um Chico César nos estudantes
Capez jogou pesado e mandou um Chico César nos estudantes