A ligação de Vorcaro, do Banco Master, com o PCC 

Atualizado em 19 de novembro de 2025 às 7:05
Daniel Vorcaro, proprietário do Banco Master. Foto: Reprodução

A prisão de Daniel Vorcaro na Operação Compliance Zero reacende outro flanco delicado das investigações: sua ligação com uma engrenagem financeira que, segundo o Ministério Público de São Paulo, teria servido ao esquema de lavagem de dinheiro do PCC. O empresário, controlador do Banco Master e investidor de peso na SAF do Atlético-MG, foi detido na noite de segunda-feira enquanto tentava deixar o país.

O MPSP sustenta que Vorcaro usou a estrutura societária do Atlético para movimentar recursos cuja origem está sob suspeita. Entre 2023 e 2024, ele aportou R$ 300 milhões para adquirir 26,9% da Galo Holding SA, empresa que controla 75% da SAF. O investimento foi feito por meio do Galo Forte FIP, um fundo que recebeu dinheiro de outros fundos estruturados em cadeia, num modelo conhecido como Fundo de Fundos. Essa arquitetura financeira, comum no mercado, também é típica de operações voltadas a esconder beneficiários finais e a origem dos valores.

A origem do dinheiro que abasteceu o Galo Forte FIP é o ponto central da apuração. Os recursos vieram dos fundos Olaf 95 e Hans 95, administrados pela Reag Investimentos, alvo da PF na Operação Carbono Oculto. Nessa investigação, o Olaf 95 destinou R$ 15 bilhões ao fundo Astralo, que pulverizou aportes em 35 fundos, entre eles o próprio Galo Forte FIP, seu único cotista. Para o Ministério Público, esse formato reproduz o mesmo padrão usado pelo PCC para lavar valores obtidos em atividades criminosas.

Arena MRV, estádio do Atlético-MG. Foto: reprodução

A Carbono Oculto mapeou uma rede nacional de lavagem ligada à facção, que incluía postos de combustíveis no Norte e Nordeste, empresas de fachada, fintechs e fundos de investimento administrados a partir de escritórios na Faria Lima. A Receita Federal identificou uma estrutura de fundos em cascata, com apenas um cotista cada, desenhada para impedir a rastreabilidade dos bens. A participação do Galo Forte FIP nessa lógica levou o MP a apontar que o esquema destinado ao Atlético pode ter servido para ocultar patrimônio de Vorcaro e lavar dinheiro da facção.

Com os aportes, Vorcaro acumulou 20,2% da SAF e ganhou voz no conselho consultivo do clube. A administração da operação ficou registrada na CVM e foi conduzida pela Trustee DTVM, outra gestora investigada no caso. Na época da Carbono Oculto, o Atlético afirmou desconhecer qualquer irregularidade na origem dos investimentos do empresário.

Enquanto isso, a Operação Compliance Zero apura um esquema de R$ 12,2 bilhões envolvendo títulos de crédito falsos e a tentativa de venda do Banco Master ao BRB, banco estatal do Distrito Federal. A PF também cumpriu mandados em endereços ligados ao BRB, cujo presidente foi afastado por decisão judicial. O cruzamento das duas operações reforça a avaliação de que os negócios de Vorcaro não se limitam ao setor financeiro e alcançam estruturas utilizadas por organizações criminosas para circular grandes volumes de dinheiro.