A longo prazo estarei morto, mas …

Atualizado em 19 de setembro de 2010 às 21:49
Quero levar o leitor a cidades hospitaleiras como a Estocolmo de Stieg Larsson

A longo prazo estaremos todos mortos.

Sempre me ocorre a frase de Lord Keynes quando faço planos. Prefiro andar de acordo com as circunstâncias imediatas. Mas enfim.

Me perguntam sobre meus projetos.

Bem, esticarei minha permanência em Londres, a melhor cidade do mundo, agora contratado pela Abril, minha casa. São cinco as revistas para as quais escreverei. Uma de negócios, a Exame, onde vivi meus melhores anos na carreira.
Eu brincava dizendo que tinha recrutado no berçário a hoje diretora da Exame, Claudia Vassallo. Foi quase. Claudia fazia o Curso Abril de Jornalismo quando a conheci. Eu era um dos monitores. Claudia, além de menina, tinha rosto de bebê. Ficava vermelha com facilidade. Lembro que passei a ela, no curso, uma matéria sobre headhunters. Ainda trabalhávamos com máquinas de escrever na Exame. Ela entregou um texto exemplar, feito num computador, coisa rara naqueles dias.

Foi imediatamente incorporada à redação da Exame. Recordo, também, que num editorial que escrevi sobre ela a expressão que usei para defini-la foi: Claudia entrega. Reportagens mais espinhosas tinham um destino certo: Claudia Vassallo. Na minha saída da Exame, em 2000, Claudia era meu voto para me substituir. Era jovem, mas convém lembrar que com 30 e poucos Alexandre já tinha conquistado e perdido o mundo.

Não foi ela, naquele momento. Mas logo depois, sim, para orgulho de quem viu nela, desde o princípio, um talento excepcional.

Recrutei Claudia quase que no berçário

Volto a escrever numa área da qual gosto particularmente: jornalismo masculino. Playboy, Vip e a recém-lançada Alfa publicarão meus textos. Se a Exame é meu caso de amor no jornalismo, a VIP é minha queridinha. No final dos anos 90, escrevi nela artigos com mais pseudônimos do que Fernando Pessoa. Fui “O Homem Irado”, por exemplo, Juan Iglezias, cujos textos começavam sempre com um “eu não suporto mais”. Iglezias logo de cara disse não suportar as câmaras da Globo que durante as partidas, em vez de mostrar mulheres bonitas como os canais europeus, buscavam tipos exóticos e desdentados ou placas de lugares remotos que saudavam Galvão.

Na Playboy, além de supervisioná-la num período, escrevi contos. Lembro que uma vez, ao ir a meu circunspecto clínico geral, um médico na casa dos 60 que comandava o Einstein, levei um susto ao ouvir dele, numa consulta, o seguinte comentário: “Gostei do seu conto.” Fiquei vermelho. O conto tinha o fervor da minha idade, 30 e alguma coisa. Não era nem para meu médico e nem para minha mãe lerem. Quanto à recém-nascida Alfa, tenho um interesse especial: o diretor de redação é meu irmão caçula, Kiko.

Por fim, vou contar o que há de melhor na Europa para os leitores da Viagem e Turismo. Sabe aquela praia em Miconos em que você pode ficar sentado na praia bebendo cerveja e olhando a paisagem deslumbrante enquanto a seu redor mulheres fazem topless? Pois é. Paradise é a praia. Quero mostrar também por que andar de bicicleta em Copenhague é um dos melhores programas do mundo moderno. Pautas dessa natureza me aguardam na VT.

É este o quinteto para o qual escreverei. Exame, Playboy, Vip, Alfa e VT.

Terminarei, nesta nova temporada em Londres, o livro “Minha Tribo — o jornalismo e os jonalistas”. Os capítulos serão publicados neste blog a não ser que a editora com que eu fechar tenha outras idéias e me convença delas.

Embora a longo prazo eu vá estar morto, o que sei é que jamais voltarei a ser executivo de uma empresa de jornalismo.  Não por amargura e sim por respeito ao tempo. Tive meu momento. Não quero mais e, felizmente, não preciso. A combinação de bons salários e vida simples me deixaram numa situação financeira confortável. Caso alguém receie acordar com a notícia de que eu sou seu novo chefe, fica aqui uma mensagem tranquilizadora. Simplesmente não existe hipótese disso.

Quando voltar ao Brasil, meu objetivo está fixado: fazer, com sócios capitalistas, o site de notícias mais inovador do país.  Quero dar um passo adiante em relação ao The Daily Beast, de Tina Brown, e ao The Hufington Post, de Ariana Hufington.

Mas isso fica para depois.

Por ora, quero aproveitar cada minuto do meu reencontro com a casa em que aprendi tanto, a Editora Abril.