A lorota de que nunca choveu tanto deveria ser banida do palavreado da mídia. Por Maringoni

Atualizado em 10 de fevereiro de 2020 às 16:05

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“Inundou porque nunca choveu tanto”.

São Paulo tem notificações de alagamentos junto às várzeas dos rios urbanos há pelo menos 160 anos. Já eram um transtorno numa cidade provinciana de 20 mil habitantes, ocupação desordenada e falta de planejamento para o escoamento de águas.

A imagem abaixo é eloquente.

Trata-se de um desenho de Angelo Agostini, um dos pioneiros da caricatura no Brasil. Foi publicada no jornal ‘O Cabrião’, de 24 de fevereiro de 1867. Dois personagens atravessam de barco a rua do Imperador (atual lado esquerdo da Praça da Sé, para quem está de frente para a catedral), totalmente alagada. Note-se a data.

É o mesmo período do ano em que estamos. De lá para cá, a situação se agravou, com alterações climáticas causadas pela devastação ambiental de mananciais e pela impermeabilização do solo.

Um século e meio depois, estamos assim: a cidade alaga, tragédias afligem bairros populares, com seu rastro de mortes e destruição. Foca-se em São Paulo, mas as calamidades se espalham.

É tudo muito previsível, é tudo tão imutável. O investimento em infraestrutura cai sem parar no país desde 2015.

Nossa prioridade é outra. Vamos desvincular o orçamento, desfazer o pacto federativo e caçar partidários do marxismo cultural e da ideologia de gênero.

A lorota de que nunca choveu tanto deveria ser banida do palavreado da mídia e dos governos que fazem dos cortes de investimentos sua virtude essencial.

Ah, e denunciar o colapso da infraestrutura na Venezuela, nem que chova canivete!