A louca cavalgada de Cristovam Buarque para tentar se convencer de que não é golpista. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 28 de agosto de 2016 às 18:31

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O caso psiquiatricamente mais fascinante entre os senadores golpistas é o de Cristovam Buarque.

Ele busca desesperadamente argumentos que justifiquem seu golpismo. Como se assim ele pudesse se olhar no espelho.

No sábado, houve um episódio exemplar.

Voz trêmula, ele perguntou ao jurista Ricardo Lodi, presente ao Senado na condição de informante da defesa, o seguinte:

“Todas as etapas da defesa de Dilma foram cumpridas neste julgamento?”

Lodi disse que sim — uma resposta claramente incompleta e infeliz.

Então, dizendo-se aliviado, Cristovam disse que estava tranquilo para votar pelo impeachment.

O que Lodi não disse, e é vital para a compreensão do caso, é que é brutalmente inútil cumprir formalidades quando os juízes já decidiram antecipadamente condenar.

Não há nada que a defesa possa fazer para evitar a condenação.

A isso se dá o nome de farsa, circo, palhaçada, o que quer que você queira. Menos julgamento. Falo de julgamento limpo. Não de julgamento imundo: aquele em que o veredito está dado antecipadamente, não importam as circunstâncias. Não importa que fique demonstrado que não houve sequer crime.

É exatamente isso que acontece com o impeachment.

Faz parte do golpe você fingir que é um julgamento de máxima isenção. Que poderia ser feito na Escandinávia. Na Suíça. Nos países que são referência em civilização.

Mas é falso. É coisa de Honduras e Paraguai, onde houve nos últimos anos ataques parecidos à democracia.

Ou, para voltar décadas na história, coisa dos julgamentos de Stálin. Todas formalidades cumpridas. Um tribunal, advogados de defesa e outras coisas: mas os acusados sabiam muito antes que seriam executados.

Faltou a Lodi presença de espírito para responder adequadamente a Cristovam — e num plano maior à sociedade.

Parecem faltar recursos intelectuais a Cristovam para ver as semelhanças entre 1954, 1964 e 2016. Sempre, a plutocracia predadora versus o povo. Cristovam hoje é um fâmulo da plutocracia que não quer admitir essa miserável condição.

Não adianta simular um julgamento com adereços civilizatórios quando ele é putrefato na alma e na essência.

Cristovam vai ter que procurar um psiquiatra para ver se consegue olhar para o espelho depois da monstruosidade que está prestes a cometer.