A luta de Eduardo contra Moraes, Tarcísio e Michelle. Por Moisés Mendes

Atualizado em 1 de junho de 2025 às 23:53
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Foto: Joedson Alves/EFE

O jornalismo da grande imprensa é, em especial o colunismo, o melhor guri de recados da extrema direita. O último recado é esse e anda de mão em mão, com cada emissário dando a sua versão: Eduardo não admite que Tarcísio ou Michelle sejam candidatos em 2026.

O único ungido a levar adiante a pregação do pai é ele, o filho que tenta reorganizar o fascismo brasileiro a partir das articulações com seus amigos americanos.

Eduardo apostou tudo o que imagina ter de poder político nessa estratégia, para salvar o pai e se habilitar a ser o candidato a presidente, porque não haveria outra saída. O filho foi para o tudo ou nada e quer ser recompensado pelo que faz.

As outras alternativas, se não conseguir tirar Michelle e Tarcísio do jogo, seriam uma candidatura ao Senado, como consolação, ou a manutenção do mandato na Câmara, que poderia transformá-lo, por inexpressão, em coadjuvante de Nikolas Ferreira.

Nas duas alternativas, se tentar voltar dos Estados Unidos, com o pai já preso ou quase encarcerado, poderá ter o mesmo destino, dependendo da evolução das denúncias, do acúmulo de novos fatos contra ele e do cenário político, incluindo as pesquisas.

Eduardo só tem garantia de sobrevivência se for o candidato a presidente, porque o sistema todo (e não só o de Justiça) não teria força para tirá-lo do jogo como nome da direita. Tirou Lula via lavajatismo, mas vacilaria para tirar o candidato anti-Lula.

Tarcísio, submetido à obediência devida, buscaria uma recondução tranquila ao governo do Estado, oferecendo lastro a Eduardo, e Michelle seria eleita senadora por Brasília com uma mão nas costas.

Fora desse cenário, todo o resto imaginável é complicado para Eduardo, considerando-se ainda que Ratinho, Zema, Caiado, Leite e outros, e até Ciro Gomes, participariam da disputa como pangarés. Nenhum outro garante proteção a Eduardo.

Mas como tirar Tarcísio do jogo? É só Bolsonaro mandar avisar, como já anda ensaiando, que o extremista moderado não o representa. Sem o aval da base raiz do bolsonarismo, Tarcísio não existe e nem quer existir.

A outra hipótese, de Tarcísio conseguir a bênção de Bolsonaro, virar candidato e se eleger, é a porta do inferno. Para o próprio Tarcísio. Que não conseguiria governar sem o controle direto do ex-chefe, mesmo que remoto e de dentro da cadeia, e do entorno representado pela família e pela base no Congresso.

Ah, dirão, mas aí Bolsonaro não será mais nada. Mas o fascismo não precisa de Bolsonaro livre e solto para ser bolsonarista. Tarcísio sabe. O fascismo pode seguir em frente sem Bolsonaro, mas não sem a alma de Bolsonaro.

Parece complicado, mas é fácil. A extrema direita que engoliu a velha direita, principalmente em São Paulo, continuará bolsonarista, pelo que tem de lastro orgânico e de poder nas cidades, no Congresso, nas igrejas e no cangaço analógico e digital. E por muito tempo.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/