
Parlamentares e aliados próximos ao Jair Bolsonaro têm evitado dizer a ele o que todos já sabem nos bastidores: a proposta de uma anistia ampla dificilmente será aprovada. Apesar de manter um discurso público de confiança, o ex-presidente segue acreditando que pode ser beneficiado pela medida, enquanto seus interlocutores reconhecem que o cenário político não favorece esse desfecho.
Segundo a coluna de Bela Megale no jornal O Globo, os aliados que visitam Bolsonaro em prisão domiciliar têm adotado um tom de cautela. Ninguém quer ser o mensageiro da má notícia, e a prioridade, no momento, é tentar reduzir danos e garantir que ele não seja transferido para um presídio comum, como a Papuda.
A preocupação principal é com o estado de saúde do ex-presidente, que segue sob cuidados médicos. Dentro do PL, partido de Bolsonaro, a defesa da anistia ampla é tratada como uma obrigação política, mas não como uma expectativa realista.
Mesmo entre os mais leais, há o reconhecimento de que a proposta não tem apoio suficiente para avançar no Senado. A articulação é vista mais como uma estratégia simbólica para manter a base mobilizada do que uma tentativa efetiva de libertá-lo.

Após a Câmara aprovar o regime de urgência para a proposta, as dificuldades para construir um texto que beneficie diretamente Bolsonaro se tornaram evidentes. O projeto que ainda tem alguma chance de tramitar é o que prevê redução de penas para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, mas sem incluir o ex-presidente entre os beneficiados.
A expectativa inicial era votar o texto nesta semana, mas o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), já admite que a análise deve ficar para a próxima. A medida enfrenta resistência até mesmo entre partidos do centrão, que não querem se associar a um perdão generalizado para os crimes de 2023.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem dito a interlocutores que não acredita no avanço da anistia e defende um plano de “redução de danos”. Para ele, a prioridade deve ser manter Bolsonaro em prisão domiciliar e negociar uma eventual diminuição da pena, em vez de alimentar expectativas políticas inviáveis.