A maior homenagem que os homens podem fazer a uma mulher

Atualizado em 23 de fevereiro de 2013 às 8:17

Um olhar ou um assobio de admiração muitas vezes só são valorizados depois que somem.
 

Pin up de Alberto Vargas

Lembro um livro de Milan Kundera. O título me foge e, para ser sincero, o enredo também. Mas uma passagem jamais me saiu da cabeça. É a dor de uma mulher atraente e provocadora no dia em que, pela primeira vez, um grupo de homens que sempre assoviavam quando ela passava fica em silêncio indiferente. O choque de perceber que deixara de ser uma mulher que fazia os homens olharem para trás. E que não havia nada capaz de mudar isso.

Sempre existe esta hora em que o mundo desmorona. A única escolha que temos é aceitar ou nos revoltarmos. Melhor a primeira alternativa, embora nem sempre viável. “Não se agaste contra as circunstâncias”, escreveu Marco Aurélio, o rei filósofo, em suas Meditações. Às vezes, não conseguimos isso por mais que tentemos seguir as lições dos sábios. Montaigne, que tanto dissertou sobre como devemos encarar a morte, ficou desesperado quando seu maior amigo morreu. “Éramos dois, e agora me sinto meio”, escreveu.

No caso específico da mulher na situação descrita por Kundera. Me pergunto se há coisa mais fascinante para uma mulher do que atrair assovios de homens na rua. Talvez, imagino, muitas não se dêem conta do tamanho dessa homenagem masculina às vezes tosca e grosseira. E só percebam a grandeza do tributo no dia em que o silêncio substitui o frêmito.

Este texto foi publicado no Diário do Centro do Mundo em 26 de abril de 2012.