A mais nova palhaçada de Roger. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 25 de outubro de 2015 às 9:38
Eternamente inútil
Eternamente inútil

Depois que a menina Valentina do MasterChef Júnior, de doze anos, foi vítima de comentários pedófilos na rede, a ativista Juliana de Faria – fundadora do coletivo feminista Think Olga e criadora da campanha “Chega de Fiu Fiu” – lançou a hashtag #primeiroassedio para que mulheres contem histórias de assédios sofridos na infância.

O decadente músico Roger, do finado Ultrage a Rigor, não resistindo ao ímpeto de, mais uma vez, chamar a atenção da rede com comentários dignos de vergonha alheia, e numa esdrúxula tentativa de ridicularizar a campanha, tweetou:

“Acho que eu tinha uns 10 anos. Uma empregada me deixou pegar nos peitos dela. Foi bom pra cacete.”

Juro que pensei algumas dezenas de vezes antes de escrever algo a respeito. É que essa gente vive em busca de confetes em uma mídia que já não se lembra de sua existência, e, honestamente, duvido que valha a pena que gastemos nossos neurônios tentando explicar o óbvio.

Ninguém precisa dizer ao Roger que “foi bom pra cacete” porque para um menino de dez anos que se tornaria o vergonhoso machista que ele é hoje o episódio era só uma amostra da antiga e nojenta sexualização de empregados que muita gente inescrupulosa acha o máximo: o filho dos patrões pegando nos peitos da empregada, como acontece desde a senzala e da casa branca. Não é o primeiro e não será o último.

O que precisamos dizer por ainda termos que suportar a existência de gente como Roger é que o modo como um Rock’n Roll decadente enxerga a rebeldia é ultrapassado, vergonhoso e, para usar o único adjetivo cabível entoado por ele, inútil.

A maciça direita brasileira considera politicamente incorreto – e, consequentemente, descolado, cool e super inovador – ridicularizar campanhas lúcidas pela igualdade. Para eles, lutar contra o assédio infantil é brega e ser alienado é Rock’n Roll. É rebelde tocar o foda-se para uma parcela da população que ainda luta por um mundo melhor.

O que nós precisamos dizer ao Roger – e a toda a corja que o acompanha – é que a rebeldia Rock’n Roll precisa de inteligência, de ativismo e de coerência. Rebelde, meu caro, é lutar por um mundo onde meninas de doze anos não sejam sexualizadas em um inocente programa de culinária. Rebelde é não se adequar a um mundo doente onde gente como Roger ainda recebe qualquer tipo de atenção.

Rock’n Roll é ter consciência dos próprios privilégios. É ainda conseguir se indignar – não seletivamente, com ele e muita gente tem feito – diante da injustiça, do abuso, do assédio, da corrupção, da alienação política. Todo o resto é ignorância.

Roger não tem culhões para empunhar uma guitarra porque isso representa a rebeldia útil e engajada. É um ato político, a representação de um movimento libertário, de uma revolução justa e coerente.

Roger, o que você chama de Rock’n Roll não nos representa – e talvez por isso ninguém, nem à direita e nem à esquerda, lembra da sua existência. Você você só foi coerente quando disse: “Somos inútil.” Continue repetindo esse mantra.