A mala de R$ 500 mil é de Temer, diz a PF. Geddel vai falar onde estão os outros R$ 31 milhões. Por Donato

Atualizado em 12 de setembro de 2017 às 15:44
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Torcida brasileira, a situação se configura da seguinte maneira: a Polícia Federal afirma em relatório entregue ontem ao Supremo Tribunal Federal, que os R$ 500 mil que rolavam ligeiros dentro da mala de Rodrigo Rocha Loures são sim de Michel Temer.

Até aí, nada de grandes surpresas. A mala foi entregue em uma pizzaria por Ricardo Saud, diretor da JBS, que confirmou em depoimento ser uma ‘semanada’ combinada para o presidente. Bolada de R$ 500 mil por semana durante 20 anos.

Segundo a PF, o total recebido por Temer é de R$ 31,5 milhões. Muito bem, R$ 500 mil estavam na malinha. Onde então os outros R$ 31 milhões?

Essa era a dúvida. Eis que um bunker com R$ 51 milhões foi revelado. Ele é de um dos braços direitos de Temer, Geddel Vieira Lima, que faz parte da quadrilha capitaneada pelo presidente da República e Eduardo Cunha (o restante do bando acusado pela PF é composto por Moreira Franco – Secretaria Geral da Presidência – Eliseu Padilha Casa Civil – e Henrique Eduardo Alves).

Já perguntei aqui neste DCM ontem: quem guarda dinheiro vivo? Só quem é depositário para alguém.

Portanto, se Geddel resolver abrir a boca – e isso não deve demorar pois até os familiares já estão se distanciando dele conforme informação do blog de Lauro Jardim – Michel Temer poderá ter que esclarecer o seguinte: se Geddel disser que meros mil reais daquela bufunfa toda são do presidente, Temer precisará de muita criatividade para desconectar o dinheiro encontrado no bunker do “Suíno” chorão com o total apontado na planilha da PF.

Os crimes que podem ser imputados à quadrilha de Temer são de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, fraude em licitação e evasão de divisas. O relatório fará parte da segunda denúncia contra o presidente apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O relatório da Polícia Federal é segmentado, possui um capítulo para cada membro da quadrilha com identificação, nome completo, foto, núcleo a que pertence, seu papel para obter as vantagens indevidas e quanto foi recebido.

A organização hierárquica do bando, segundo os investigadores, coloca Temer em posição parelha a de Eduardo Cunha. Enquanto Cunha ‘desenvolvia a parte obscura das negociações’, Michel Temer era quem ‘oficializava’ as ações. Ou seja, sem a dupla, talvez a coisa não tomasse a proporção que tomou. Mas apenas um está atrás das grades.

Michel Temer, através da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, deu a seguinte resposta em formato de nota oficial: “O presidente não participou e nem participa de nenhuma quadrilha, como foi publicado pela imprensa, neste 11 de setembro.

O presidente tampouco fez parte de qualquer estrutura com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagens indevidas em órgãos da administração pública. O presidente Temer lamenta que insinuações descabidas, com intuito de tentar denegrir a honra e a imagem pública, sejam vazadas à imprensa antes da devida apreciação pela justiça”.

Noves fora o argumento de que os vazamentos são nocivos apenas quando não envolvem o inimigo, o governo Temer teve o desplante de manter uma quadrilha em funcionamento durante toda a Lava Jato. Certeza maior de impunidade não há e o arquivamento da primeira denúncia de crime no mês passado deixou isso claro.

Michel Temer vem atendendo os patrocinadores do golpe, por isso sente-se seguro. Sob seu governo, o Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais que julga recursos contra a cobrança de multas e tributos) isentou o Itaú pelo pagamento de impostos no processo de fusão com o Unibanco. Significou uma derrota de R$ 25 bilhões para a Receita Federal. Era o processo de maior valor que tramitava no órgão.

Agora, com planilha totalizadora da Polícia Federal, com organograma aos moldes que agradariam o mago do powerpoint Deltan Dallagnol, e com Geddel sob pressão, ficará tudo por isso mesmo? O Congresso vai repetir o papelão? A ver.