A mãozinha que Marco Rubio deu ao cunhado preso por tráfico de cocaína

Atualizado em 15 de novembro de 2025 às 22:10
Donald Trump e Marco Rubio

Em 2016, Orlando Cicilia, imigrante cubano radicado em Miami, foi condenado por distribuir cocaína avaliada em 15 milhões de dólares. Ele escondia quilos da droga num quarto extra de sua casa em West Kendall para enviá-la a diversos pontos do país dentro de caixas de cigarro.

Durante a era dos “Cocaine Cowboys” nas décadas de 1970 e 1980, Cicilia integrou uma rede internacional que utilizava um negócio de animais exóticos como fachada. Mario Tabraue, conhecido por deixar leopardos soltos em sua propriedade em Coconut Grove, comandava o esquema, enquanto Cicilia aparecia como a cara da operação.

Em 1989, foi condenado a 35 anos de prisão e saiu em 2000.

Enquanto isso, imigrantes no Sul da Flórida enfrentam deportações por infrações antigas ligadas a drogas — muitas bem menos graves que as atribuídas a Cicilia — sob as políticas de Donald Trump. Juan Erles González, cubano de 56 anos, cumpriu 18 meses por um caso de conspiração relacionado à cocaína quase vinte anos atrás e agora corre risco de expulsão.

Em julho, Isidro Pérez, de 75 anos, morreu sob custódia do ICE depois de ser detido e enquadrado como “inadmissível” segundo a Lei de Imigração e Nacionalidade; sua condenação vinha dos anos 1980, quando respondeu por posse de maconha.

O secretário de Estado Marco Rubio tem um cunhado que passou mais de uma década preso por tráfico federal após chegar de Cuba. Seu nome é Orlando Cicilia.

Cicilia é casado com Barbara, irmã mais velha do senador. Ele chegou a Miami em 1972, aos 15 anos, conheceu Barbara no ensino médio e o relacionamento avançou rapidamente. Quando o pai de Rubio se mudou para Las Vegas em 1979 para trabalhar como barman, ela permaneceu em Miami com Cicilia.

Dois anos depois, a família Rubio voltou para a cidade e ficou hospedada na casa do casal em West Kendall. Rubio tinha 14 anos e morou ali entre junho e 4 de julho de 1985. Nesse período, o imóvel já funcionava como centro de uma operação avaliada em 75 milhões de dólares.

Um dos distribuidores relatou no julgamento que cortava e guardava grandes quantidades de cocaína no quarto de hóspedes entre março de 1985 e janeiro de 1986.

No livro “An American Son”, Rubio afirma que visitava a casa com frequência para cuidar dos sete cães e que desconhecia as atividades ilegais do cunhado. Dois agentes disseram ao jornal Miami New Times que viam essa alegação com ceticismo.

Rubio conta que recebia dez dólares por semana para lavar cada cachorro e usava o dinheiro para comprar ingressos da temporada de 1985 do Miami Dolphins.

A situação veio à tona em 1987, quando a operação federal “Operation Cobra” levou à apreensão da casa e à condenação de Cicilia, Tabraue e outros cinco envolvidos. Tabraue recebeu pena de 100 anos, saiu após 14 e abriu depois uma fazenda de animais exóticos em Redland. Cicilia cumpriu quase 12 anos dos 35 impostos. Os supostos 15 milhões de dólares obtidos no tráfico nunca foram recuperados.

Após sua libertação, em 2000, Cicilia conseguiu licença para atuar no mercado imobiliário com ajuda direta de Rubio. Na época líder da maioria na Câmara da Flórida, Rubio enviou uma carta recomendando a aprovação do pedido sem mencionar que o candidato era seu cunhado.

“Conheço o sr. Cicilia há mais de 25 anos. Recomendo sua licença sem restrições”, escreveu em 2002.

Quando o passado de Cicilia ganhou destaque na campanha presidencial de 2016, Rubio evitou o tema. O cunhado sempre esteve presente em seus comícios.

“Orlando cometeu erros graves quase trinta anos atrás, cumpriu sua pena e quitou sua dívida com a sociedade”, afirmou Todd Harris, porta-voz do senador, ao Washington Post em 2015. “Hoje é um cidadão comum, marido e pai, tentando ganhar a vida.”

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.