A melhor coisa de Wimbledon

Atualizado em 30 de janeiro de 2013 às 22:39
Fred Perry, o último campeão inglês de Wimbledon

 

Londres fica obcecada por tênis nas duas semanas de Wimbledon. Não há comparação com os parisienses em Roland Garros. Os parisienses bocejam. Os londrinos enlouquecem. (Para mim, particularmente, Wimbledon é parada obrigatória. Vou à lendária Queue, Fila. Nela, você compra ingressos baratos ao custo, é verdade, de uma certa paciência e resistência física para enfrentar por algumas horas a multidão alegremente enfileirada.)

São quinze dias ao longo dos quais os londrinos sacam, voleiam, vão para a rede como se estivessem na quadra.

E no fim perdem.

Há 74 anos um britânico não vence em Wimbledon. Para você ter idéia de como é antiga essa glória, Fred Perry, o último vencedor,  jogava de calça, não de calção. Há uma estátua dele em Wimbledon, evidentemente.

E eis que agora, depois de muitos anos, os britânicos têm um finalista, Andy Murray. Murray não é inglês, mas escocês. Quando ele vai bem, os ingleses o tratam como britânico. Quando vai mal, como escocês.

Murray vai enfrentar o grande Federer na final, e a não ser que meu amigo Sobrenatural de Almeida esteja a seu lado, se sagrará vice.

Murray diz que tira inspiração em Mike Tyson. Gostei disso. Especificamente, de uma frase de Tyson dos grandes tempos: “Antes de cada luta, sinto medo e fico nervoso. Quando entro no ringue, sei que posso derrotar qualquer um.”

Mas nada sobre Wimbledon é remotamente tão inspirador quanto um poema de Kipling inscrito em frente à quadra central. São versos de intensa beleza, profundidade e, mais que tudo, sabedoria. Chama-se If, e termino este texto com a tradução preciosa do poeta Guilherme de Almeida.

Se

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar –sem que a isso só te atires,
De sonhar –sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais –tu serás um homem, ó meu filho!