
Londres fica obcecada por tênis nas duas semanas de Wimbledon. Não há comparação com os parisienses em Roland Garros. Os parisienses bocejam. Os londrinos enlouquecem. (Para mim, particularmente, Wimbledon é parada obrigatória. Vou à lendária Queue, Fila. Nela, você compra ingressos baratos ao custo, é verdade, de uma certa paciência e resistência física para enfrentar por algumas horas a multidão alegremente enfileirada.)
São quinze dias ao longo dos quais os londrinos sacam, voleiam, vão para a rede como se estivessem na quadra.
E no fim perdem.
Há 74 anos um britânico não vence em Wimbledon. Para você ter idéia de como é antiga essa glória, Fred Perry, o último vencedor, jogava de calça, não de calção. Há uma estátua dele em Wimbledon, evidentemente.
E eis que agora, depois de muitos anos, os britânicos têm um finalista, Andy Murray. Murray não é inglês, mas escocês. Quando ele vai bem, os ingleses o tratam como britânico. Quando vai mal, como escocês.
Murray vai enfrentar o grande Federer na final, e a não ser que meu amigo Sobrenatural de Almeida esteja a seu lado, se sagrará vice.
Murray diz que tira inspiração em Mike Tyson. Gostei disso. Especificamente, de uma frase de Tyson dos grandes tempos: “Antes de cada luta, sinto medo e fico nervoso. Quando entro no ringue, sei que posso derrotar qualquer um.”
Mas nada sobre Wimbledon é remotamente tão inspirador quanto um poema de Kipling inscrito em frente à quadra central. São versos de intensa beleza, profundidade e, mais que tudo, sabedoria. Chama-se If, e termino este texto com a tradução preciosa do poeta Guilherme de Almeida.
Se
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar –sem que a isso só te atires,
De sonhar –sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais –tu serás um homem, ó meu filho!