A melhor fotógrafa com quem trabalhei

Atualizado em 18 de dezembro de 2010 às 7:35
Eu, por Bia: quase lindo

“Faz a barba para a sessão de foto. Não esquece.”

Não esqueci, mas também não fiz. Quer dizer, fiz parcialmente. Não tirei, mas aparei e acertei as bordas.

Duas pessoas jamais engoliram a barba que deixei a partir dos 30 e poucos anos. Uma é minha mãe. A outra é minha amiga Bia Parreiras, a maior fotógrafa com quem trabalhei. Talento, dedicação, lealdade: Bia tem todos os atributos que valorizo. E está sempre rindo, outra virtude. Poderia, talvez, ser um pouco menos viciada em trabalho, menos voraz com a câmara.

Bia quis fazer umas fotos minhas depois que viu um auto-retrato pavoroso meu de Paris. As câmaras modernas, para o bem e para o mal, permitem a você se fotografar com facilidade. Seu braço não sai, mas isto não chega a ser um problema. Na sacada de meu quarto no hotel Magenta, em Paris, tirei uma foto que publiquei. Bia viu, se assustou e decidiu me fotografar na primeira oportunidade.

“Agora uma foto sexy”, disse a ela, rindo. Abri um botão de minha camisa. Lembro, na juventude, meu pai abotoando minha camisa e dizendo, com razão, que com o peito cabeludo à mostra eu parecia cafajeste.

Bia é Bia em sua lealdade. Ela escreveu, no Diário do Centro do Mundo, um comentário para um dos capítulos de meu livro em que eu falava da traição de que fora vítima na Editora Globo. “O Paulo está fragilizado”, afirmou Bia. Ri. Mais uma vez, é uma coisa que só minha mãe escreveria. A maior diferença entre a forma com que as duas me enxergam é que para mamãe sempre fui Paulinho e para Bia simplesmente Paulo. Tenho, em meu apartamento em São Paulo, um retrato feito por Bia, com palavras antigas que num determinado momento me deram suporte quando eu duvidava de mim mesmo. “Para o maior capitão de time que conheci”, está escrito.

As melhores fotos de homens de negócios do Brasil levam a assinatura de Bia. Nos anos 80 e 90, ela fez grandes retratos de empresários e executivos para a Exame. É gostoso ouvir Bia contar as histórias por trás das fotos: como ela convenceu aqueles homens poderosos e sem tempo a posar do jeito que ela queria. É uma pena que Bia não as tenha transformado em livro.

Bia se destacou tanto na Exame que foi convidada a trabalhar na Veja como editora de fotografia. Foi uma ascensão e ao mesmo tempo um tombo. Bia sempre gostou de fotografar, e não de escolher fotos. Não bastasse isso, ela trabalhou na Veja sob um dos piores chefes de redação que já apareceram na mídia brasileira: Mário Sérgio Conti, aquele tipo que só acha graça nas piadas dos superiores, para os quais está de sempre de joelhos dobrados ao mesmo tempo em que pisa os subordinados.

Bia ficou pouco na Veja. Na primeira chance levei-a para trabalhar comigo nas revistas masculinas, para onde fui depois da Exame. Mesmo assim, Bia fez talvez a foto mais marcante da história da Veja: a de Pedro Collor, na capa em que ele falava tudo sobre seu irmão presidente.

Foto histórica de Bia

Nas revistas masculinas, Bia fez alguns trabalhos que jamais esqueci. Fotografou Ana Paula do vôlei para a capa da Vip sem roupa nenhuma. Foi a capa da Vip que mais vendeu. Ana Paula estava agachada, e sua nudez tímida e esplêndida era parcialmente protegida por uma bola de vôlei.

Numa outra missão, Bia produziu um terremoto em Ribeirão Preto, uma cidade amada por mim, a terra da família de minha mãe, os Emboabas.

Bia fez o seguinte. Anunciou num jornal local que ia passar uns dias fotografando candidatas a aparecer na Playboy. A cidade se agitou. Muitas mulheres se voluntariaram. Bia escolheu umas poucas. Tinha dito a ela que fizesse algumas fotos em locais típicos de Ribeirão, parques, essas coisas. Ao ar livre. Foi um alvoroço. Não é sempre que mulheres peladas andam pelas ruas tranquilas de Ribeirão. Mas o fato é que, como sempre, as fotos saíram.

Gostaria de rever as fotos. E de saber o que aconteceu com as moças assanhadas de Ribeirão, mais de dez anos depois.

Não bastasse tudo, Bia é uma mãe incrível. Teve que ser mãe e pai ao mesmo tempo para a filha Iara depois que se separou do marido, que virtualmente sumiu.

Não sei como ela encontrou tempo para tantas coisas, mas o fato é que Bia conseguiu ser uma profissional exemplar, uma amiga leal – e mais importante que tudo uma mãe simplesmente impecável.