A mídia brasileira não aprendeu nada com a prisão de Lula. Por Tiago Barbosa

Atualizado em 29 de novembro de 2019 às 17:06
Lula

A mídia corporativa brasileira somou um novo mantra ao inventário de platitudes antipetistas: Lula não aprendeu nada na cadeia.

É o inverso.

A mídia brasileira não aprendeu nada com Lula na cadeia.

E mantém a mesma ladainha desonesta, irracional e fraudulenta usada para levar o petista à prisão e inflar com ódio a horda de extremistas do país. 

A soltura de Lula ressuscitou velhas distorções e irresponsabilidades editoriais. 

Surgiu o medo oligofrênico da liberação em massa de homicidas, estupradores e sequestradores. 

Era mentira.

Apareceu a dificuldade de combater a corrupção, expediente explorado nos discursos apocalípticos de fake news de Luis Roberto Barroso e companhia punitivista do STF.

Outra lorota.

Demolida pelos votos de Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello. 

Os presos perigosos seguiram na cadeia, e a ameaça violenta mais nítida é a multiplicação de pobres e inocentes mortos pela delinquência assassina do governo do Rio de Janeiro.

Apelaram à polarização, a fantasia eleitoral empregada para naturalizar Bolsonaro e vilanizar Fernando Haddad.

A falsa simetria tupiniquim capaz de equiparar como perigo um professor democrata a um ex-militar entusiasta da tortura e da ditadura.

Aplicada a Lula, a equivalência é ainda mais risível e desprovida de lastro histórico.

À frente do poder, Lula (e Dilma) nunca atentou contra a democracia e atuou no limite das alianças do presidencialismo para sair com 87% de aprovação popular.

Bolsonaro é um paradigma diário de ensaio autoritário e desrespeito às regras democráticas.

Aparelhou a procuradoria, domou a Polícia Federal, esterilizou os órgãos de fiscalização contra trabalho escravo e danos ambientais.

Estabeleceu sigilo dos próprios gastos, defendeu a ditadura, feriu o princípio da impessoalidade e atacou a liberdade de imprensa.

A realidade esvazia a celeuma retórica comparativa e antipetista da mídia brasileira.

Mas ela não insiste.

A jornalista Miriam Leitão, protagonista invariável de memes sobre previsões murchadas, cobra autocrítica do PT.

Sim, autocrítica, aquele verbete político e midiático criado para açoitar exclusivamente o partido de Lula.

Palavra do universo persecutório da mídia cujo único objetivo é manter o petismo amarrado a uma eterna noção de erro.

Miriam é o retrato da imprensa golpista corresponsável por elevar a miséria, ampliar a desigualdade e dilapidar o patrimônio público brasileiro.

Apostou no triunfo de Mauricio Macri na Argentina. Errou. Enalteceu a economia chilena. Falhou. 

A despeito da cobrança ao PT, ela ignora solenemente os fracassos sucessivos na análise da conjuntura latino-americana.

A imprensa queria um Lula preso ou inútil para convalidar a narrativa falsa com a qual ela tornou célebre um juiz bandido e elegeu um neofascista.

E se deparou com um político cuja injustiça sofrida abalou democratas no mundo todo, acordou parte do judiciário e cativou milhões de brasileiros.

Caberia à mídia rever os próprios erros e diferenciar com exatidão o petista e  seu legado dos arroubos tirânicos do bolsonarismo – e o que as políticas de ambos representam para o país.

Tempo, ela teve. 580 dias.

Mas, pelo visto, não aprendeu nada com Lula na cadeia.