A mídia e Gaddafi

Atualizado em 1 de junho de 2013 às 18:16
Líbia, 2011

Vejo circular pela internet um texto meu sobre o desempenho da mídia na guerra da Líbia.

Eu falava, especificamente, na questão da morte de civis por conta dos ataques da coalizão anti-Gaddafi. Tantos jornalistas lá, e nenhum conseguia confirmar uma só vítima. Enquanto isso, os aliados negavam mortos. O que faltava em informação era e é compensado por adjetivos. Gaddafi virou um demônio num mundo de anjos ocidentais.

Foi preciso que o Vaticano entrasse em cena para que soubéssemos o óbvio: as armas da coalizão estão, sim, matando inocentes.

Num gesto de extremo bom senso, o Vaticano pediu o fim da ofensiva da coalizão e uma saída diplomática “decente” para Gaddafi.

Gaddafi é abominado pelas potências ocidentais há muito tempo. Ele foi o primeiro líder árabe a impor, nos anos 60, novas condições nos contratos espoliadores que grandes empresas do Ocidente tinham para explorar o petróleo na região.

Gaddafi é um filho do Ocidente. Melhor: da maneira como o Ocidente lidou e lida com o mundo árabe. Foi o comportamento cínico e indecente das potências ocidentais que gerou entre os árabes radicais como Gaddafi.

A história mostra que os principais interesses do Ocidente em suas intervenções nos países árabes são petróleo, petróleo e ainda petróleo. Depois disso pode ser que venham as chamadas razões humanitárias.

Não é à toa que países como Estados Unidos, Inglaterra e França são tão detestados lá.

Os povos árabes estão dizendo não a seus ditadores. Chega. Fora. Esta é a primeira parte de um processo de renascimento. A segunda é talvez mais complicada: se livrar do abuso do Ocidente.