A mídia esportiva brasileira

Atualizado em 5 de dezembro de 2010 às 9:40
A imagem do campeonato de 2010

Minhas expectativas em relação à imprensa esportiva brasileira são ridiculamente baixas, mas ainda assim ela conseguiu me decepcionar na abordagem das marmeladas sem precendentes protagonizadas pelo São Paulo e pelo Palmeiras.

É histórico o campeonato brasileiro de 2010, mas por razões absurdamente erradas.

A crítica esportiva foi de maneira geral complacente e tolerante com dois atos de flagrante corrupção esportiva. Ou alguém acha que entregar jogos em competição profissional não é corrupção?

Inventaram eufemismos.

“Diferença de motivação” foi um deles. Palmeiras e São Paulo teriam aberto as pernas para o Fluminense por “diferença de motivação”. Quem acredita nisso, como disse Wellington, acredita em tudo.

Inventaram que isso acontecera o ano passado, num jogo em que o Corinthians perdeu para o Flamengo.

Só a obtusidade córnea ou a má fé cínica, para usar a expressão de Eça, para sustentar essa falácia. O Corinthians lutou, colocou três bolas na trave do Flamengo, sofreu a marcação de um pênalti duvidoso que revoltou os jogadores e a torcida, a ponto de um corintiano invadir o campo para bater no juiz. O goleiro Felipe ficou transtornado, você vê no vídeo do jogo. Aplaudiu ironicamente, raivosamente  o juiz. Sua reação lembrou a de Fabrício, do Cruzeiro, no recente jogo contra o Corinthians: ódio descontrolado, não satisfação.

A mídia esportiva deixou que Muricy, Felipão e outros propagassem sem réplica hipocrisias acintosas à inteligência dos brasileiros. Muricy disse que é difícil jogar contra adversários na situação do São Paulo e do Pallmeiras. Hahaha. Felipão disse que marmelada só existe na cabeça da torcida. Hahaha vezes dois.

Vamos entender com clareza. O Fluminense está sendo campeão porque ganhou de graça seis pontos numa hora complicadíssima em que dois times estavam colados nele. Não há nenhuma razão pela qual se pode supor que o Fluminense, em circunstâncias normais, venceria as duas partidas. No primeiro turno, no Rio, empatou com ambos os times.

Também os jornalistas esportivos abriram as pernas para a vergonha.

Onde a indignação? Onde as propostas? Onde exemplos, no mundo, que poderiam coibir vergonhas desta natureza? O que os regulamentos europeus poderiam fazer para melhorar o futebol brasileiro? Torcedores podem ficar atrás de um goleiro para xingá-lo, ameaçá-lo ou atirar coisas? Onde a polícia?

A Europa é tão melhor que o Brasil que lá esse tipo de coisa seja inconcebível? Experimente ficar atrás do gol do Chelsea hostilizando o goleiro. Experimente mandar a campo o time reserva para prejudicar um rival. Experimente se deixar futebolisticamente se sodomizar como fizeram os jogadores palmeirenses e são-paulinos.

Melhor não. Melhor não experimentar.

A mídia esportiva brasileira é tão ruim quanto os bastidores do futebol brasileiro.