É como se um portal tivesse se aberto e as lembranças de todos os horrores e fantasmas de muitos oprimidos, torturados e assassinados viessem bater à porta e aportar em nosso imaginário novamente.
Nem em seus melhores sonhos Walter Salles imaginaria o resultado da cascata de emoções provocadas pelo longa-metragem “Ainda Estou Aqui”. O que fica evidente é que as chagas causadas pela ditadura militar ainda não se curaram; talvez nunca cicatrizem, como no caso de Rubens Paiva e sua família.
Mas, enquanto a sociedade civil emudece e a mídia tenta relativizar as tentativas de golpe do bando de Bolsonaro, plano que envolvia o assassinato do presidente Lula, seu vice Alckmin e o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, o sucesso do filme mantém aceso o debate sobre as monstruosidades dos militares.
“Ainda Estou Aqui” funciona como os filmes que denunciaram as atrocidades do nazismo contra os judeus durante a Segunda Grande Guerra. Ganha corações e mentes.
Durante a inauguração do busto de Rubens Paiva na Câmara dos Deputados, em Brasília, em 2014, o covarde golpista e então deputado Jair Bolsonaro afrontou os presentes e, principalmente, a família do homenageado ao cuspir na obra. “Torturadores ainda são heróis de muitos policiais”, disparou Vera Paiva, filha do ex-deputado que aparece no longa com destaque. ”Um covarde em ação, uma característica dele.”
Essa é Vera, filha de Rubens Paiva e Eunice Paiva. Pra quem assistiu o filme “Ainda Estou Aqui”, mais fácil chamar de Veroca.
O que ela conta nesse curto vídeo é tão perverso que é difícil achar adjetivos para a desumanidade de Bolsonaro. Pra não esquecer. Pra nunca se repetir. pic.twitter.com/MnYPoNnhPp
— Sacha Faria (@sacha_faria) November 29, 2024
“A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”, disse Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, na promulgação da Carta em 1988. “Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.”
“Ainda Estou Aqui” é o nome perfeito para o filme. A única alternativa possível seria “Anistia é o Caralho”.