A conversa de cegos entre FHC e Jô sobre imprensa e blogs. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 19 de maio de 2016 às 7:35
Conversa sem nexo: FHC e Jô
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Vocês me perdoem o atraso neste artigo. É que eu estava fazendo um vomitaço.

Não foi possível suportar, sem reações físicas desagradáveis, a entrevista que FHC concedeu a Jô Soares na noite desta terça.

Não vejo, não leio, não ouço nada da Globo. Ou na Globo, para ser mais preciso. Mas, diante dos comentários, vi a entrevista no YouTube.

FHC está mais lúcido do que nunca, aos 83 anos. Isso quer dizer que não se pode acusá-lo de senilidade ou nada relativo à idade avançada.

O cinismo, a hipocrisia, a mentira empolada – tudo isso é dele mesmo. O tempo apenas expôs a essência a alma escondida de FHC.

Jô contribuiu para meu vomitaço. Ele parecia a repórter Poliana Abritta, aquela que entrevistou Meirelles no Fantástico e ao final, quase em seu colo, lhe desejou “muito boa sorte” em nome de todos os brasileiros.

É simplesmente ridículo, mesmo numa entrevista amiga como as de Jô, tratar FHC como “Fernando”, como ocorreu.

O momento mais ridículo foi quando FHC e Jô falaram do papel da mídia no golpe. Com a habitual firmeza com que trata de qualquer assunto, FHC proferiu uma estupidez de dimensão monumental.

Ele disse que, nestes novos tempos, as famílias Marinho, Civita e Frias já não controlam o noticiário que suas empresas produzem.

Os jornalistas, segundo FHC, têm autonomia para escrever o que quiserem.

Como disse Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo. Não. Nem quem acredita em tudo acredita numa coisa daquelas.

Os donos da mídia controlam absolutamente tudo. Aparelharam suas redações com cães de guarda, todos os quais se esmeram em fazer exatamente o que os patrões querem. No caso do golpe, isso se traduziu em todos os dias estampar pseudonotícias destinadas a desestabilizar o governo Dilma.

Quem não está disposto a fazer isso está fora do jogo.

Jô trouxe à conversa os blogs. Como um octogenário padrão, mostrou um imenso desconhecimento deles. Sugeriu que eram financiados pelas estatais sob comando do PT na era Lula e Dilma.

Em que planeta Jô vive? Todos os anos sua Globo recebeu dos governos petistas 600 milhões de reais, um anualão que jamais cedeu mesmo com o constante declínio das audiências da emissora.

Mídias tradicionais sempre levaram quase 100% do dinheiro investido em publicidade federal – isso mesmo com a explosão da internet.

Sobraram invariavelmente migalhas estatisticamente desprezíveis para sites independentes, a despeito do crescimento explosivo de seu público, um contingente enorme da sociedade que decidiu abandonar o conteúdo viciado e desonesto de Globo, Veja, Folha etc.

Anunciantes privados já colocavam mais de 20% de seu orçamento em novas mídias quando as estatais petistas ficavam em 1% ou pouco mais.

Toda a estrutura da Secom, a secretaria do governo que gerencia verbas publicitárias, foi  desde sempre voltada para as grandes empresas jornalísticas, a começar pela Globo.

Um debate que desconheça isso é um debate destituído de nexo.

Os sites independentes vão permanecer por uma razão básica: existe mercado para eles – os milhões de leitores que abominam a mídia plutocrática e golpista. Essa mesma mídia que insiste em tratar FHC como um estadista quando ele é apenas o decano dos golpistas, um representante das forças da primitiva direita latino-americana que vive de derrubar quem ameace seus privilégios e mamatas ancestrais.