A missão de Thomas Traumann

Atualizado em 27 de outubro de 2014 às 13:20

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Thomas Traumann foi uma excelente aquisição para a Secom.

Trabalhamos juntos na Época em meados dos anos 2 000. Thomas é um jornalista competente e um homem de caráter.

Fazia, na revista, uma das seções mais lidas: Filtro. Como o nome diz, era uma filtragem das notícias mais importantes da política. (O espírito dela está presente em nosso Essencial.)

Eu era diretor editorial, e minha divisa era: “um olho na revista e outro no site”. Thomas, com seu Filtro, era a representação disso.

Na edição semanal, você tinha ali o principal do mundo político no papel. Diariamente, pela internet, você se informava por Thomas.

O mundo político acompanhava-o. Lembro que uma vez Serra, então forte candidato à presidência, nos contou que uma de suas leituras obrigatórias era o Filtro de Thomas.

Ele chega à Secom sob uma cínica desconfiança da mídia.

Absurdamente privilegiada há anos, décadas, por sucessivos governos com coisas como publicidade em doses abjetas e financiamentos a juros maternos em bancos públicos, a mídia teme que a Secom coloque algum dinheiro em blogs que representam, hoje, a garantia de que vozes e visões alternativas chegarão à sociedade.

As companhias de jornalismo defendem, essencialmente, seus próprios interesses – e os do grupo a que pertencem, o chamado 1%.

Antes da internet, elas comandavam – manipulavam – a opinião pública. Veja o que elas fizeram com Getúlio e, depois, Jango. Com Lula, no Mensalão, o mesmo comportamento padrão se repetiu – a tentativa de minar governantes populares. A diferença é que a estratégia não funcionou. A intenção era a mesma.

Foi nesse quadro que a internet surgiu e floresceu como uma vital contrapartida às empresas de mídia.

Colunistas que reproduzem o pensamento patronal estão criticando a nomeação de Thomas.

Reinaldo Azevedo – que tem uma velha obsessão por mim – é um deles.

É até engraçado. Quando dirigiu uma revista a favor do PSDB, Azevedo recebeu mensalões do governo paulista na forma de anúncios. Nem isso foi suficiente para salvar a publicação.

A revista para a qual ele trabalha – a Veja – é abençoada com a compra de lotes consideráveis pelo governo de Alckmin.

Os exemplares vão terminar em escolas estaduais cujos alunos estão na internet. São conhecidos os relatos de gente que vê as revistas indo para o lixo exatamente como chegam – na embalagem plástica.

Alguém pode imaginar jovens lendo revistas de papel, com a internet à sua disposição? Mas o governo Alckmin gasta milhões em Vejas que não serão lidas por estudantes que sequer a conhecem.

Thomas Traumann chega com uma missão relevante: dar mais nexo ao investimento publicitário oficial.

Faz sentido a Globo – com audiência em queda aguda por conta também da internet – continuar a receber tanto dinheiro em anúncios governamentais?

A Globo é uma bizarrice. Graças ao BV (Bonificação por Volume), uma espécie de propina para as agências, a Globo tem 60% da receita publicitária brasileira tendo 20% da audiência.

Todo este dinheiro – o governo colocou 6 bilhões de reais nos últimos dez anos – alimenta uma máquina que defende os interesses dos Marinhos, dos Marinhos e ainda dos Marinhos.

E defende bem: os herdeiros de Roberto Marinho têm, juntos, a maior fortuna do Brasil, como mostra a lista de bilionários da Forbes. São cerca de 55 bilhões de dólares, somados.

Durante muito tempo, só o governo pagava tabela cheia de publicidade quando os anunciantes privados tinham descontos que podiam passar de 50%. Era uma torração infernal de dinheiro público.

Dívidas com bancos oficiais eram pagos, frequentemente, com anúncios. Nos anos 1980, o Jornal do Brasil regurgitava de anúncios do governo.

Investir no jornalismo digital é fundamental – sobretudo para a sociedade. Jango não teria sido derrubado tão fácil se na época houvesse a internet para mostrar o que os jornais não mostravam.

Teríamos evitado, simplesmente, a ditadura militar – a qual, além de matar brasileiros, construiu um país campeão mundial de desigualdade.

Os militares – apoiados pela mídia – fizeram um governo de ricos, por ricos e para ricos.

Thomas, na Secom, é a esperança de que cheguem ao fim as mamatas das empresas de mídia no que diz respeito às verbas oficiais.

Se Thomas se sair bem, mais que o governo Dilma, quem ganhará mesmo é a sociedade brasileira.

66 COMMENTS

  1. É muito tímida a presença governamental na internet.

    Uma pesquisa rápida no Youtube indica que:

    PT: 2.375 inscritos no canal
    TV NBR: 13.179 inscritos
    Palácio do Planalto: 15.076
    Prefeitura de São Paulo: 344

    São números ridículos. Tem um monte de abóbora com 1 milhão de inscritos.

    A título de curiosidade, o PSDB é mais patético ainda, tem 570 inscritos.

  2. PAULO
    Tenho um lema:
    Se a midiazona nao gosta, eu gosto.
    e acredite, tenho errado muito pouco. No Brasil, ficar contra a mídia é acertar como se fosse numa barbada.

  3. A minha opinião ainda é a de que os governos, em todas as esferas, gastam dinheiro demais e indevido com mídia. O único tipo de material midiático no qual os governos deveriam poder investir são os de utilidade pública. Mas o que se faz, no Brasil, desde sempre e ainda hoje, é torrar uma grana absurda em propaganda político/eleitoral mal disfarçada. E a oposição só não berra porque faz exatamente a mesma coisa onde administra e pretende fazer novamente no dia 30 de fevereiro, quando voltar ao poder federal.

  4. A pergunta é, quanto ele resistirá a imensas pressões que sofrerá se tentar mudar a situação?
    Sua antecessora passou incólume, pois era invisível.

    • Pedro,

      a antecessora de Trautmann não era nada invisível, ela fazia parte de uma manobra ilusória do Governo para amansar a mídia, coisa que o tempo provou ser inútil. Trautmann pode representar uma inflexão, para que lado vamos ter que aguardar para saber.

      • Não acredito que agora vá mudar muito. E traumann continuará enviando verbas publicas para os grandes do PiG até porque precisa da grande audiência delas para divulgar as obras do governo. No Tijolaço tem um ótimo artigo de Fernando Brito sobre a saída de Helena.

        Depois das eleições, caso eleita Dilma, acredito que a coisa vai mudar e muito. Mudaria significativamente se os eleitores ajudassem expulsando os tucanos de São Paulo.
        São Paulo é o rubicão a ser atravessado

        Vingança é um prato que se come frio.

  5. Sou, e moro, em Belo Horizonte. Eu e minha mulher temos recebido 2 exemplares da revista veja, religiosamente, desde o inicio de novembro/2013 como cortesia. Elas vão diretamente para o lixo da área social do meu prédio ainda no plástico. Para minha alegria, esses 2 exemplares quando jogados no lixo, encontram com várias de suas “irmãnzinhas” igualmente, ainda, ensacadas. O mais interessante é que mesmo ignorados e sendo negado a adesão como assinante, a editora continua nos “brindando” com o exemplar.

    • Porque foram previamente pagos e alguns desses exemplares conseguirão “germinar” e produzir “frutos”!!!

  6. Aloizio Mercadante comprou um belo lote de VEJA, em nome de seu ministério…é por aí a coisa…Rio que tem piranha, Jacaré (cagão) nada de costas!

    • A lei que disciplina esse “regime de cotas” que favorece grandes mídias foi assinada em 2003, por Lula, que certamente ouviu ponderações a respeito (tanto que alguns artigos, incisos e parágrafos foram vetados). Agora, eles estão amparados pela lei, tanto que um defensor das práticas de governo me corrigiu quando eu reclamei contra o dispêndio de verba publicitária a favor das Organizações Globo, e tudo que ele me respondeu foi “Fazer o que? Tá na lei…” Mas não dá nem para discutir a lei, seus critérios e a real perda de audiência e vendas de jornais e revistas das OG? Ou o medo do poder midiático não recomenda?

  7. Duas coisinhas….

    A Globo é decadente, não tem audiência, ninguém vê….e é a culpada de todos os males do Brasil e sua maior má influência. Vai entender….

    A outra: Sobre o espírito de Trautmann no “Essencial”, Paulo não fica bravo, mas não entendi se foi um elogio ou um xingamento, o “Essencial” é de acordo à linguagem que optar por usar, a pior parte do DCM, o ponto fraco ou a “oportunidade de melhoria” se preferir. As escolhas são muitas vezes sofríveis na minha humilde opinião e o viés ideológico é latente não somente pelo que publicam nessa sessão, mas principalmente pelo que omitem

    • O seu primeiro argumento não é exatamente válido. A Globo já teve muita audiência e podemos exemplificar seu poder nefasto com a edição do debate entre Lula e Collor. A presença dela em formação de opinião ainda é bem relevante.

      Postei sobre os números do Youtube no meu comentário. É curioso que as TVs modernas já vem até com configuração prévia de acesso ao Youtube. Tem um ícone gigante “Youtube” em um monte de TVs.

      Conheço caras que sozinhos em suas casas, aprendem um pouco sobre edição de vídeos e falando de jogos tem centenas de milhares de inscritos. Ou seja tem gente comendo mosca aí no governo.

      Quanto ao Essencial já postei minha opinião algumas vezes. Fica aí uma sugestão, criem um box “Últimas notícias” e coloquem o que for de atual e façam o “Essencial” algo mais relevante.

  8. Falou alguém que tem propriedade,esperamos que as tais verbas sejam democratizadas pois minha caixa de impropérios contra a política da SECOM está se esvaziando.

  9. O Olavo é uma besta.
    Qto ao ‘financiamento’, é como qquer empresa de mídia.
    Demos primeiro foco no produto para ter qualidade e audiência. Passamos de 2 milhões de visualizações e chegamos a 1 milhão de visitantes únicos por mês.

    Agora, montamos um departamento comercial e temos conversado com agências e anunciantes — da Sony e do Bradesco ao Banco do Brasil e Itaú.

    Não há isenção do governo e nem mamatas das gdes empresas de mídia como empréstimos a juros de mãe.

  10. BV é uma propina. É uma ‘comissão’ que a Globo e outras empresas oagam para as agências a cada publicidade que colocam no veículo.
    Com isso, as agências dependem financeiramente do BV — e o da Globo é de longe o maior.

    Isto pode mudar — mas a pressão da Globo é enorme. O medo é que ela ataque no JN quem ousar mudar as coisas.

  11. Lixo toxico. Não pode jamais ser reciclado.
    Vcs ainda podem ser acusados de esta contaminando o ambiente.
    Cuidado com a vigilância sanitária!

  12. Antes da Internet a mídia comandava e derrubava governos populares como o Golpe contra Jango e o assassinato de Getúlio. Com Lula o jogo foi repetido na mesma estratégia.
    “A diferença é que a estratégia não funcionou. A intenção era a mesma.”
    Cabe recomendar muito cuidado ao fazer essa afirmação. Em que medida podemos afirmar que “a estratégia não funcionou”? Quem hoje votaria no PT? Quantos eleitores foram perdidos de forma irreversível depois que conseguiram colar no partido o rótulo de “corrupto”? A classe dos motoristas pode ser uma boa amostra dos efeitos da campanha difamatória midiática. Os que conheço, motoristas de taxi e colaboradores no trabalho não votam no PT de jeito nenhum porque é um partido dominado pela corrupção. Quantos são os eleitores que se informam nos blogs e outros veículos “alternativos” ao ponto de mudar a sua opinião fortemente influenciada pelo extraordinário poder de manipulação da TV? Eu não conheço nenhum!!!

    • Não sei de onde vc é, mas na cidade de São Paulo 99% dos taxistas eram malufistas roxos, sabiam quem era o cara e descaradamente diziam votar no “rouba mas faz”. Hoje provavelmente essa maioria vota no Alckmin e no Serra. Não sei o que os move para sempre votar nos corruptos.

      • O caso dos taxistas de São Paulo foi um caso de “amor de interesse” por vantagens que eles receberam do Maluf há um certo tempo. O que preocupa é que não se pode minimizar o poder destrutivo da Globo que, se não conseguiu AINDA reverter as tendências majoritárias do eleitorado desfavorável ao seu PARTIDO provocou com a campanha difamatória do mensalão sistematicamente veiculada durante sete anos um rombo na base do PT colando no partido o rótulo de CORRUPTO. Portanto não se deve dizer que agora segue em andamento o mesmo “modus operandi” praticado pela oligarquia midiática na derrubada de Getúlio e Jango mas que desta feita “a estratégia não funcionou”! A blogosfera deve ter noção das limitações do seu alcance principalmente porque a patrulha midiática interdita qualquer iniciativa de apoio comercial do governo aos meios alternativos que, por isso, permanecem, ressalvadas raras exceções, em franca desvantagem em relação aos poderosos barões da mídia. Sem falar na exposição à censura do judiciário que pode quebrar qualquer valoroso combatente com uma simples ação em primeira instancia. Por isso é comum para quem habita em ambientes de classe média facilmente perceber que desde motoristas a técnicos de nível médio e superior estão todos convencidos de que o PT é um partido de corruptos. Ouve-se falar que alguns gostariam de que o JB se candidatasse porque votariam nele e um dia desses um motorista me perguntou se o Skaf não pode ser uma boa alternativa para São Paulo. A prova de que a “estratégia” funcionou e está funcionando muito bem!

  13. “Um primo meu querido que deis ser liberal me “obrigou” – como forma de conhecer antes de criticar – a assistir um vídeo do Olavo de Carvalho com uma hora de duração.”

    Pô, vc assistiu?
    E ainda sobreviveu para contar.
    Sabia que vc ainda pode denunciar seu primo por tentativa de homicídio?

  14. Vc tem razão. Porém o fato de o GOLPE não ter se consumado (ainda) não autoriza, eu acredito, ninguém a dizer que a “estratégia não funcinou”! Pelo contrario. O rombo que essa estratégia midiática causou nas bases eleitorais é visível no contato com as classes mais beneficiadas com os programas desenvolvidos em bem sucedidos do governo. E a adesão (no caso do STF é submissão) do judiciário, MP e outras instituições ao partido da mídia é outro aspecto que não pode ser ignorado e é indicador do sucesso da estratégia da mídia golpista que segue em andamento. O fato é quem enquanto não for quebrado o monopólio dos meios de comunicação no Brasil, minimizar esse poder é fazer o jogo do inimigo. A diferença do atual cenário politico em relação aos governos de Getúlio e Jango é que o atual governo expandiu as politicas de Estado para os quatro cantos do território. Como diz um líder politico muito criticado, “nunca antes nesse país” as populações dos recantos mais longínquos tiveram oportunidade de qualquer percepção da presença do Estado. Essas populações nunca viram ou souberam o que é Governo Federal e provavelmente imaginavam essa entidade como o Antônio Conselheiro via a “Republica” que, para ele, era a encarnação do Satanás. Os povos desassistidos, como eram os habitantes de Canudos, só conheciam do Estados os aparelhos de arrecadação e repressão. Então, o fato de o Governo viver acuado apesar da extraordinária expansão do Estado em todos os cantos, muito maior que nos tempos de Jango e Getúlio, é prova inequívoca de que há um poder atuando com muita força que deve ser reconhecido, respeitado e atacado sem tréguas. Dizer ou imaginar que a estratégia não está funcionando é, portanto, ingenuidade ou má fé que desarticula a luta que tem que ser travada em todos os fronts democráticos.

  15. Vai lá Thomas, tome decisões importantes à frente da Secom. Chega de mamata, os Marinhos já estão com os bolsos cheios de dinheiro público e ainda assim seu principal veículo de comunicação, a Tv Globo, continua imbecilizando os brasileiros. O governo federal precisa e deve sim investir mais na internet, ela é democrática e não manipula a opinião pública. Imagina o que seria de Lula se não fosse a internet e os blogs progressitas?

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