A morte da Falha de S. Paulo. Por Lino Bocchini

Atualizado em 27 de dezembro de 2018 às 12:00
A Falha de S.Paulo original foi banida

Publicado originalmente no Facebook do autor

POR LINO BOCCHINI

A maioria de vocês já deve ter visto uma conta de Twitter chamada Falha de S. Paulo, que imita a Folha de S.Paulo. Ela não tem ligação alguma comigo ou com meu irmão, Mario Ito, que criamos, há praticamente uma década, a Falha original, fomos censurados e processados pela família Frias e estamos em em uma batalha na Justiça até hoje – no momento o caso encontra-se no STF.

As diferenças são muitas. A nossa Falha durou apenas um mês antes de ser censurada pela Folha. Era um blog de paródia e crítica. Seu conteúdo tinha muitas fotomontagens, como a de “Otavinho Vader”, que mesclava o corpo do vilão Darth Vader com o rosto do então Publisher do jornal, Otavio Frias Filho. Sua linha editorial era progressista e buscava derrubar o discurso falso do jornal, que se diz apartidário, imparcial (nenhum veículo no mundo é, isto é impossível).

A Falha atual, por sua vez, busca muitas vezes claramente confundir-se com o jornal, conseguindo assim ser retuitada por muita gente desavisada, entre elas personalidades. Desta forma começou a ganhar fama. Já foi retuitada, por engano, por nomes como Ciro Gomes ou Paulo Guedes. Mais recentemente, tem sido retuitada pessoalmente pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, mas só que de propósito, em meio a sua cruzada contra o jornal.

Não posso afirmar ainda que a nova Falha é uma das contas de apoio mantidas ou orientadas pela equipe de Bolsonaro no Twitter, como são as contas “Isentões”, “Joaquim Teixeira” e tanta outras.

O que podemos dizer, com certeza, é que a nossa produção era impossível de ser confundida com o conteúdo original da Folha. Nunca fizemos nada com esse propósito, e o próprio STJ já decidiu nesse sentido, a nosso favor. Tanto que ninguém se confundia, era uma realidade totalmente diferentemente da Falha atual, que se esforça em fomentar a confusão e, desta forma, alcançou sua fama.

Outra diferença vital: a cruzada de Bolsonaro contra a imprensa não parece em nada com a crítica progressista que eu e meu irmão fazíamos ao jornal. Nem com nossas convicções pessoais. Bolsonaro e seus apoiadores atacam o jornalismo. São contra a existência da crítica e da própria imprensa.

Bebem da fonte de Olavo de Carvalho, que prega que os jornalistas são “os maiores inimigos do povo”. Seus ministros abandonam entrevistas coletivas no meio e destratam repórteres. Sou jornalista, não posso compactuar com isso. Qualquer um que tenha visto a Falha original no ar sabe que ela jamais seria munição para gente que pensa desta forma.

Já derrotamos de goleada a sede por censura dos falsos democratas da família Frias no STJ. Inconformados, agora o clã e seus asseclas recorrem ao Supremo. Com o surgimento dessa nova Falha com, digamos, outro DNA e sendo apropriada pelo novo governo, mesmo que ganhemos o processo nesta última instância, não há a menor possibilidade de reativarmos a marca.

Acabam de matar a Falha de S. Paulo.