A morte da mãe de Michael Corleone

Atualizado em 10 de setembro de 2012 às 17:52
Griselda Blanco

Griselda Blanco só não pode ser acusada de ter passado em branco pela vida, brutalmente encerrada em Medelim poucos dias atrás quando ela saía de um açougue.

O resto ela fez. Matou dois maridos, batizou um filho de Michael Corleone, amealhou uma das maiores fortunas do mundo nos anos 1980, deu a seu mastim o nome de Hitler, comprou jóias que pertenceram a Eva Peron e promoveu orgias nas quais se divertia com homens e mulheres sob o estímulo de doses épicas de cocaína. Calcula-se que ela tenha sido a responsável por 240 mortes ao longo de uma carreira que desafiaria a imaginação de qualquer roteirista criativo de cinema.

Grisela, apelidada “Madrinha”, inventou o traficante de drogas tal como o conhecemos hoje. Pablo Escobar foi seu discípulo. Foi ela que introduziu, nos anos 1970, a cocaína – vinda da Colômbia — nos Estados Unidos em escala industrial. Segundo o tablóide londrino Sun, foi ela também que trouxe a novidade em pó para os ingleses.

Era um tempo em que a fiscalização na alfândega era quase que inexistente. Num certo momento, Grisela chegou a empregar 1 500 traficantes. Sua base era Miami. A série Miami Vice de alguma forma é filha de Grisela.

Grisela inventou, também, um tipo de crime que se alastraria: os assassinos se aproximavam de seus alvos numa moto, um dirigindo e o outro com a arma, e faziam o serviço na hora certa. A fuga era fácil.

Grisela, em seus anos de opulência em Miami, fez a felicidade de muitos policiais, brindados com propinas enormes. A vida começou a ficar dura quando entraram em cena os agentes do DEA, o departamento da polícia americana dedicado a combater o tráfico.

Como é tão comum, Grisela começou cedo, como prostituta em Medelim. Adolescente ainda, casou com um vigarista que vendia passaportes falsificados. Matou-o numa disputa de negócios. Não era seu primeiro assassinato: aos 11 já tinha matado um homem. O casamento seguinte foi com um traficante, com o qual ela viu que droga dava muito mais dinheiro que passaporte.

O segundo marido começou numa determinada hora a achar que ela estava ficando com muito poder. Irritou-o, particularmente, o apelido de Madrinha, tirado do filme O Poderoso Chefão. As desinteligências se acentuaram, e eles acabaram trocando uma saraivada de tiros como se fosse uma cena de Scarface de Pacino. Ele morreu, e ela quase. Acabou se recuperando de uma bala no estômago, e viveria os anos de ouro de sua carreira no tráfico. A melhor maneira de combater a concorrência, para Griselda, era simplesmente matando-a.

O DEA acabou por prendê-la em meados dos anos 1980.  Na época, vivia com o último marido, um afro-americano bem mais jovem que ela. Grisela passou vinte anos na cadeia em Miami, e ao final da pena foi deportada sob completa discrição para evitar o inevitável — a vingança de tantos inimigos que fizera. Voltou à sua Medelim já transformada fisicamente numa abuela – avó – gorda. Tinha feito plásticas e contava não ser reconhecida. Tinham sobrado algumas propriedades que lhe trariam uma aposentadoria tranquila.

Com o último marido

Até que alguém – não se sabe ainda quem — a reconheceu, a despeito de todos os anos e todas as plásticas.

O fim teve uma justiça poética. A Madrinha foi alcançada por criminosos numa moto, exatamente no estilo que ela inventara e popularizara.

Tinha 69 anos.

Seu legado estará para sempre presente nas narinas de adeptos da cocaína, a droga que ela transformou para uma elite festiva internacional num produto de consumo quase tão chique e glamuroso quanto  Gucci, Prada e Chanel.