A morte das revistas semanais de informação

Atualizado em 1 de junho de 2013 às 15:32

O melancólico final da Newsweek.

Uma das últimas edições impressas da Newsweek, no final do ano passado
Uma das últimas edições impressas da Newsweek, no final do ano passado

Nada mostra tão bem o declínio das revistas semanais quanto a agonia da Newsweek, que durante décadas foi a influente e admirada número dois do mundo, com uma circulação de 3 milhões de exemplares.

Na redação da Veja, nos anos 1980, a Newsweek e a líder Time eram acompanhadas com rigor e com devoção pelos jornalistas, incluído eu em meu começo de carreira.

Nesta semana, soube-se que, mais uma vez, ela está à venda. Só que ninguém quer comprar os restos mortais.

A Newsweek foi virando pó com a ascensão da internet. Foi perdendo leitores, anunciantes, repercussão e, finalmente, razão de ser.

Já nos estertores, passou do grupo que controla o Washington Post para as mãos da editora Tina Brown, que comandava então o site Daily Beast. As duas marcas ficaram sob a órbita de Tina.

No final do ano passado, a edição impressa deixou de circular. Se não fosse o aviso, ninguém teria notado, tão irrelevante já tinha ficado a revista na Era Digital.

Agora, o site foi posto à venda. A empresa quer se dedicar à marca Daily Beast.

É difícil imaginar que apareça candidato. No New York Times, alguém notou, melancolicamente, que não é uma revista à venda, com jornalistas: é apenas uma marca.

E uma marca de um passado longínquo. O caso da Newsweek não mostra apenas quanto a internet destruiu a indústria tradicional de mídia. (Há pouco tempo, a Time Warner tentou se desfazer de sua divisão de revistas, mas não encontrou quem quisesse comprar.)

A agonia da Newsweek revela, também, um fato duro para as companhias jornalísticas: as grandes marcas do papel não transferem seu prestígio para a internet. Não surpreende que a empresa prefira se concentrar no Daily Beast e não na Newsweek.

No Brasil, o quadro é o mesmo, com o natural atraso de alguns anos que caracteriza a mídia nacional em relação à americana e à europeia.

A principal revista brasileira, a Veja, é uma sombra do que foi. Os esforços extraordinários para manter a circulação em 1 milhão – a mesma em vinte anos – não têm impedido uma queda calculada em 4% ao ano.

Tenho para mim que o fim iminente e inevitável das revistas semanais de informação amargurou enormemente Roberto Civita em seus últimos anos.

Tenho para mim, também, que parte dos excessos da revista se deveu a uma desesperada tentativa de manter a relevância a qualquer preço.

O fato é que a internet vai transformando rapidamente as demais mídias em defuntos.

A próxima parada, liquidados jornais e revistas, é a televisão.

O futuro da tevê está na Netflix, no YouTube e na Amazon, que vai produzir conteúdo em vídeo. Marcas tradicionais – a Globo no Brasil – vão enfrentar um processo parecido com o que vitimou a Newsweek e tantos outros títulos nobres da Era do Papel.

A Globo só consegue manter a receita publicitária – sem a qual não é nada – graças ao expediente do BV, o Bônus por Volume, que acorrenta a ela as agências de publicidade.

Mas o grilhão só se explica com audiências monstruosas. Porque é o terror de perder essas audiências – com um boicote da Globo — que faz os anunciantes aceitarem uma coisa tão ruim para eles.

Sem grandes audiências, a amarra se vai. Os anunciantes se despedirão da Globo (e do BV abominado) e vão buscar seus consumidores onde eles estão: na internet. Não no Faustão, não no Fantástico, não nas novelas.

A internet vai fazer com a Globo o que governo nenhum conseguiu fazer: acabar com o monopólio. Pela via da desaparição de espectadores.