A morte de José Paulo de Andrade, a voz do rádio paulistano. Por Luis Nassif

Atualizado em 17 de julho de 2020 às 19:07

Publicado originalmente no GGN:

Por Luis Nassif

A rapaziada de hoje não tem ideia do poder do rádio até algumas décadas atrás. Ao contrário das TVs, sob o domínio massacrante da Globo, nas rádios havia mais competição local.

Minha experiência com rádios começou quando me indispus com a Folha, devido às denúncias que fiz contra o governo Sarney e o consultor geral Saulo Ramos, logo após o Cruzado. Já tinha começado na TV Gazeta, ainda no período da Abril Vídeo, com o programa Cash. Quando terminou o contrato da Abril com a Gazeta, recusei um convite da Globo para montar o Dinheiro Vivo e montei meu próprio programa por lá.

Com a saída da Folha, recebi um convite de Fernando Vieira de Mello para ser comentarista na Jovem Pan. Naquela época, o radio jornalismo tinha três veículos fortes, a Jovem Pan, a rádio Bandeirantes e a Eldorado. Havia a rádio Excelsior, depois rádio Globo e ainda não havia se iniciado a CBN.

Cheguei a fazer um ensaio na Jovem Pan. Logo depois, no entanto, Vieira de Mello me chamou para comunicar sua decepção com a impossibilidade da contratação. Antonio Carlos Magalhães, Ministro das Comunicações de Sarney, havia disponibilizado um canal fechado para uma parceria da Jovem Pan com Digenio do Objetivo. E, naquela época, eu já era visto como inimigo do governo.

Logo depois, João Saad me contratou para a rádio Bandeirantes. Tempos depois, o governo Collor conseguiu expulsar meu programa da TV Gazeta e passei um tempo com o programa no início da manhã, na TV Bandeirantes. Depois, tive que fechar o programa e passei a ser comentarista econômico da Band TV e rádio.

Foi nesse período que convivi com José Paulo de Andrade e Salomão Esper na rádio Bandeirantes. E passei a sentir a penetração da rádio. Às vezes, no interior, as pessoas reconheciam minha voz, pela rádio, antes de reconhecer o rosto mostrado pela TV.

Zé Paulo era uma máquina de comentários. Tinha posições mais radicais, temperadas pela sabedoria libanesa de Salmão Esper. Libanesa, não: síria. Ele sempre caçoava de minha ascendência dizendo que eu era o único libanês que ele conhecia que não tinha nariz empinado.

Ambos substituíram o mais prestigiado comentarista de rádio do período, Vicente Leporace, titular do programa O Trabuco de Leporace. E seguraram a peteca. Naquele período, apenas Ferreira Neto, pela rádio Gazeta, tinha o prestígio individual de Zé Paulo. Até então não havia o âncora opinador de TV. Por isso, cabia as rádios a empatia com o público, tentando ser os intérpretes da indignação, do apoio e mesmo do pensamento mais horizontal do seu público.

Na disputa pela audiência, a Bandeirante se impunha sobre a Jovem Pan apenas no Jornal da Manhã, dos titulares Zé Paulo e Salomão Esper.

Zé Paulo representava o conservadorismo paulistano, defensor intransigente da classe média – uma entidade que surgiu após a redemocratização e se tornou uma fatia influente da opinião pública. Em particular, era generoso, amigo.

A última vez que tentei vê-lo foi no lançamento do seu livro, na Livraria Martins da Paulista. Foi impossível, tal a quantidade de fãs, que o acompanharam por décadas.