A morte de Rita Lee: antes de Roberto de Carvalho, houve o amor de Arnaldo Baptista

Na época do desbunde Rita e Arnaldo foram morar na Cantareira e tiveram de casar no papel para acalmar a mãe da roqueira

Atualizado em 9 de maio de 2023 às 16:19
Rita e os irmãos Baptista, Arnaldo e Sergio

POR LEA PRADO

Poderia ter sido Bárbara, mas para contrariar a mulher, que concordou por ser nome de uma santa virgem e casta, Charles deu a ela o nome Rita – santa, mas que se casou e teve filhos.

Transgressora, quando criança botou fogo no teatro da escola e fez xixi no sapato das coleguinhas.

A garota nascera com o espirito libertário e desencanado, propicio para a revolução comportamental que se deu nos anos 60 e 70. E na adolescência, com as Teenage Singers, iniciou sua trajetória para alcançar posto de rainha do rock nacional.

Formada por Rita e mais três gurias, a teenager tinha como referência os Beatles.

Nas apresentações colegiais do teatro João Caetano, no centro de São Paulo apesar da rivalidade, a banda se funde aos Wooden Faces, por afinidades musicais. Era composta pelos irmãos Dias Baptista – Cláudio, Arnaldo e Serginho –, mais Raphael e Tobé.

Com o tempo, entre idas e vindas, o grupo se torna O’Seis, já que restaram 6 integrantes.

Em 1966 lançaram seu único compacto, com as músicas O Suicida e Apocalypse. Mais uma dança das cadeiras e do grupo sobraram Rita e 2 dos irmãos Dias – Sérgio e Arnaldo.

Ronnie Von foi quem oficializou o nome, Os Mutantes, num show do grupo, em seu programa na TV Record, em 1966.

O salto na carreira aconteceu quando o grupo foi convidado para fazer o arranjo da música “Domingo no Parque” – segundo lugar no Festival da Canção de 1967.

O maestro Rogério Duprat sugeriu a Gilberto Gil que conhecesse o trabalho dos Mutantes. O experimento sonoro da parafernália elétrica e a vestimenta debochada dos integrantes trouxeram a possibilidade de uma nova estética musical e de um sopro de modernidade na MPB.

Com Rita Lee, Os Mutantes lançaram 5 discos clássicos entre 1968 e 1972, até que ela fosse expulsa do grupo por Arnaldo.

“A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista”, disse Arnaldo, segundo ela conta no livro Rita Lee: uma autobiografia (2016).

Rita e Arnaldo engataram namoro quando ainda ensaiavam no casarão da Pompéia, onde moravam os irmãos.

Com mudança para a Cantareira e os frequentes pernoites da cantora por lá, Rita não sabia mais como contornar os questionamentos da mãe.

Arnaldo Baptista e Rita Lee

Para ter “liberdade” os dois acabaram se casando no civil, com direito a rasgar certidão em programa de tv.

O compromisso do casamento, pelo que a cantora deixou entrever em seu livro autobiográfico, foi vivido de maneira alternativa, com direito a muitas loucuras e variação de parceiros.

Se separaram. Arnaldo fez a obra-prima “Lóki”, em 1975, com Rita nos backing vocals. Algumas canções de coração partido são de cortar os pulsos, como “Desculpe” e “Te Amo Podes Crer”.

Em 1º de janeiro de 1982, um dia após o aniversário de Rita, Arnaldo se atirou da janela do sexto andar do hospital onde estava internado, numa aparente tentativa de suicídio.

A base do crânio foi fraturada. Ele teve ainda um edema cerebral e outro pulmonar, sete costelas fraturadas e várias lesões pelo corpo. Rita apareceu no hospital quando soube do incidente, cindo dias mais tarde, com a amiga e ex-parceira musical Lucinha Turnbull.

Chorava “compulsivamente” e ficava “encostada no vidro que a separava de Arnaldo, murmurando frases ininteligíveis, como se pudesse falar com ele”, escreveu o jornalista Carlos Calado.

Arnaldo ficou em coma e sobreviveu com sequelas. De acordo com Calado, “um walkman, enviado por Rita, injetava música clássica e de meditação, durante todo o tempo, nos ouvidos de Arnaldo. Mais tarde, foi a vez dos discos dos Mutantes e muito Jimi Hendrix”.

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