A movimentação financeira do Bolsonaro boliviano. Por Moisés Mendes

Atualizado em 6 de janeiro de 2023 às 11:18
O governador de Santa Cruz de la Sierra, o advogado Luis Fernando Camacho durante um protesto contra Evo Morales
Foto: Reprodução/Reuters

O Ministério Público da Bolívia já conseguiu as provas que o Brasil ainda procura sobre a dinheirama usada em ações golpistas.

Pegaram as movimentações de Luís Fernando Camacho, governador de Santa Cruz de la Sierra, líder civil do golpe de 2019 contra Evo Morales e preso desde 28 de dezembro na penitenciária de segurança máxima de Chonchocoro.

A Bolívia nos oferece mais subsídios para que aconteça aqui o que aconteceu lá. Prenderam Camacho, o que parecia improvável, e agora o MP divulga informações sobre o que ele fazia como milionário financiador do golpe.

O ministro do Governo, Eduardo del Castillo, foi quem apresentou os dados levantados pelo MP em coletiva à imprensa.

Os promotores chegaram a várias movimentações financeiras suspeitas do fazendeiro, empresário e líder da extrema direita, o Bolsonaro deles, já envolvido em investigações sobre lavagem de dinheiro com contas no Exterior.

Camacho fez depósitos para pessoas identificadas como golpistas e até para o general Jorge Terceros Lara, comandante da Força Aérea e um dos principais operadores do golpe de 2019 nas Forças Armadas.

As movimentações para civis e fardados das mais diversas áreas foram feitas entre 5 de novembro e 9 de dezembro de 2019.

Nesse período, aconteceu o motim da Polícia Nacional (dia 9 de novembro), o golpe contra Evo (dia 10) e a autoproclamação da então senadora golpista Jeanine Áñez como presidente (dia 12).

“Trata-se de uma parte do financiamento do golpe de Estado”, disse o ministro, que não revelou as cifras movimentadas.

Dois depósitos foram feitos para Terceros no dia 12, a data da posse de Jeanine, o que demonstra que os golpistas não temiam uma reviravolta que os flagrasse cometendo crimes.

O MP estava investigando as movimentações há um ano e 10 meses. Outros envolvidos no golpe podem ser denunciados.

Camacho está preso como líder civil do motim e como chefe de ações antidemocráticas recentes em Santa Cruz, para tentar mais uma vez derrubar o governo.

Um juiz acolheu denúncia do MP que o acusou de liderar ações violentas (bloqueios de rodovias, greves em setores essenciais e ataques a policiais), caracterizadas como terrorismo.

O golpe de 2019 durou um ano e foi derrotado nas urnas com a eleição de Luis Arce, em 2020. Arce é do Movimento ao Socialismo de Morales.

Lideranças de Santa Cruz de la Sierra estão convocando uma mobilização nacional para o dia 10 de janeiro, depois de perceberem que as ações de protestos nas ruas não têm força.

Camacho ficará em prisão preventiva por quatro meses, mas já se sabe que, depois desse prazo, o encarceramento deve ser prorrogado.

O dado curioso é que, sob o argumento de que Camacho, de 43 anos, é um homem doente, a mulher dele, Fátima Jordán, foi autorizada a dormir na cadeia, numa área perto da cela onde está o marido.

Se ela decidir revezar com outro parente de primeiro ou segundo grau, o acompanhante será trocado e Camacho nunca ficará só.

Golpista é bem tratado na Bolívia. O acompanhante de preso é uma concessão esdrúxula, mas o governo teme que acusem Arce de não assegurar assistência ao fascista.

E os financiadores do blefe do golpe no Brasil? Estão sendo cercados há anos por Alexandre de Moraes, desde o começo das fake news.

Uma hora teremos suas caras estampadas em notícias sobre o fim dos endinheirados das máfias de extrema direita acionadas pelo bolsonarismo.

Texto publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link