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A mulher de Cunha, a delação premiada e as “esposas silenciosas” da máfia. Por Kiko Nogueira

Eles

 

O destino de Cláudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, está nas mãos do marido. Cunha pode livrá-la da detenção se topar um acordo de delação premiada na Lava Jato. Foi o que fez o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Costa incluiu a família na sua negociação com a Justiça. A mulher, as duas filhas e os genros colaboram na investigação, devolvem o dinheiro roubado e escapam da cana.

Eles respondem por corrupção, formação de organização criminosa e obstrução das investigações: câmeras os flagraram na empresa Costa Global retirando diversos documentos para, suspeita-se, dar-lhes um fim.

No rol de benefícios da delação, inclui-se a “substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos caso condenados”.

De acordo com os suíços, o casal Cunha abriu quatro contas no banco Julius Baer. Elas foram irrigadas com 5,9 milhões de dólares (22,4 milhões de reais, hoje).

Parte da grana serviu para pagar a Fundacion Esade, em Barcelona, onde a filha de Cunha, Danielle, fez um MBA. Cláudia também desembolsou 60 mil dólares por aulas de tênis com o célebre professor Nick Bolletieri, de Palm Beach, treinador, entre outros, de Agassi e de Sharapova.

Uma possibilidade remotíssima seria Cláudia abrir o bico e entregar o maridão. Remotíssima. Cláudia conhece o terreno onde está pisando há muito tempo.

Cláudia poderia ser uma espécie de versão brasileira da figura da “esposa silenciosa”, uma instituição da máfia siciliana que resiste à modernidade. As senhoras de mafiosos que romperam o silêncio e denunciaram os maridos tiveram um triste fim.

Em 1995, no curso da Operação Mãos Limpas, na Itália, inspiração da Lava Jato, Vincenzina Marchese, mulher do chefão Leoluca Bagarella, sumiu logo após a prisão dele. Deixou um par de pantufas ao lado da cama e, na penteadeira, um vaso de flores e uma nota em frente ao bonito retrato de casamento dos dois.

A polícia nunca descobriu o que houve. A nota dizia o seguinte: “Meu marido merece uma estátua de ouro. Luca, a culpa é toda minha. Me perdoe”.

Cláudia, obviamente, não seguirá os passos da pobre Vincenzina. Sem contar que, a essa altura, dificilmente ela deve achar que Eduardo mereça uma estátua de ouro.

 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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