A mulher de Sorocaba e o discurso bolsonarista idiota de submissão aos homens. Por Nathalí

Atualizado em 23 de fevereiro de 2023 às 19:24
O cantor Sorocaba e a esposa Biah Rodrigues
Foto: Reprodução/Redes sociais

No Brasil, pseudocelebridade querendo aparecer é tão comum quanto bandido de colarinho branco: é mato, brota em qualquer lugar.

Dessa vez foi Biah Rodrigues – a essa altura certamente muito feliz por estar nas manchetes – que resolveu criticar – pasmem – Rihanna.

Biah é esposa de Sorocaba, da dupla Fernando e Sorocaba, e só. Sua função principal é a de esposa – e não há nenhum problema nisso, desde que você não tente convencer todas as outras mulheres a fazerem o mesmo.

Ela criticou a capa da Vogue em que Rihanna e Meghan Markle aparecem na frente de seus maridos, e não atrás deles, como o conservadorismo patriarcal sempre quis.

Rihanna, à frente de seu marido, na capa da Vogue. Reprodução

Quer dizer: não basta ser ridícula e assumidamente submissa, é preciso criticar as mulheres que não o são.

Não satisfeita, Biah também criticou looks de Gkay e Harry Styles ao falar sobre conceito de moda.

Eis as perguntas que ficam: quem é Biah Rodrigues? De onde saiu? Do que se alimenta? O que a faz pensar que ela pode, como reles mortal, criticar a Rihanna?

E o micão não acabou por aí.

Questionada por uma seguidora se é submissa ao marido, ela disparou: “Sim. Submissão significa respeitar a autoridade e os desejos dos outros. Mas a submissão nem sempre significa obediência. Meu marido é autoridade no meu lar. Ele é sacerdote, ele cuida e protege a nossa família. Sim, sou submissa ao meu marido, pois o respeito e honro.”

Essas palavras parecem ter saído diretamente da boca de um pastor de igreja quadrangular. E o pior é dizer, implicitamente, que a mulher que não aceita ser submissa ao homem não o respeita e honra.

Minha querida, o primeiro respeito que você deveria ter é consigo mesma: primeiro deixando de viver na sombra de um homem, e depois tomando um pouquinho de vergonha na cara antes de criticar Rihanna.

O discurso de submissão das mulheres aos maridos, embora muito antigo, foi reafirmado e fortalecido durante os anos do governo Bolsonaro e com o franco crescimento do número de evangélicos na política.

Stories do Instagram de Biah Rodriguez, esposa de Sorocaba. Reprodução

Essa ideia esdrúxula é tão marcante a ponto de as mulheres não apenas desejarem ser submissas, mas desejarem também que todas as outras o sejam.

Gente como Biah Rodrigues, infelizmente, nunca sentirá o gosto da liberdade porque estará ocupada fazendo o jantar do marido e lavando suas meias sujas. Uma lástima, é verdade – e como elas, ainda há muitas.

Ainda bem que temos Rihannas pra nos abrirem os olhos. O conservadorismo patriarcal ainda terá muito pelo que chorar.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link
Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.