A Mulher Exigente

Atualizado em 1 de junho de 2014 às 1:17

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”Um homem só é feliz ao lado de uma mulher se é dele o controle remoto.” Foi o que me disse outro dia meu amigo Guillermo. Guillermo foi vítima da Mulher Exigente. Alessandra, sua namorada, transformou-o num escravo. Ela escolhia os filmes no cinema, os DVDs, as peças de teatro. Ela escolhia os restaurantes, as viagens, os hotéis. Ela escolhia as posições sexuais e as preliminares. Aliás, demoradas e extenuantes mesmo para uma pessoa atlética como Guillermo.

E a morte: ela não lhe dava a menor chance de pegar o controle remoto.

A Mulher Exigente não é uma espécie exatamente nova. Na Bíblia, você encontra muitas delas, como Betsabá, que mandava no rei Davi, que mandava em todos. (Para tê-la, Davi enviou o marido de Betsabá à frente de uma guerra. O objetivo era que ele morresse, o que logo aconteceu.) A Mulher Exigente, repito, não é novidade. Mas o fato é que, nos tempos recentes, com o avanço feminino em todas as áreas, do escritório ao futebol, ela se multiplicou espantosamente.

A Mulher Exigente parece se vingar, em cada homem, da dominação masculina secular. O homem não é um parceiro, um cúmplice, a metade de um todo. O homem é o concorrente a ser batido. Como uma gladiadora sem direito a férias nem fins de semana, a Mulher Exigente está em combate o tempo todo. Ela quer espaço, mas não em pedaços. Ela quer todo o espaço.

A Mulher Exigente despreza o avental e a cozinha. Despreza sua mãe, sua avó e todas as antepassadas que se curvaram ao pérfido domínio masculino. Despreza o homem. No fundo, a Mulher Exigente prefere um vibrador a um macho, porque é mais fácil de manejar. A frase masculina que mais a excita sexualmente, dita num timbre tímido e amedrontado, é: “Posso?”
Ela não fala, grita. Ela não pede, manda. Ela não cede, impõe.

E ela, paradoxalmente, é nossa cria. Nós inventamos nosso inimigo. Nós a demos à luz. Nós e nossa covardia culpada. Porque nós nos sentimos culpados por ser homens e mandar, desde sempre. Nós caçávamos os javalis enquanto elas ficavam no conforto aquecido da caverna, nós nos expúnhamos ao frio e aos dentes da fera e, mesmo assim, carregamos um sentimento de culpa que se refinou ao correr dos longos dias e foi dar na proliferação da Mulher Exigente.
Somos vítimas não da Mulher Exigente, mas de nós mesmos.

Viramos subalternos, ganhamos a docilidade pétrea de recrutas perante generais. Nos transformamos em pó. Somos chicoteados e agradecemos ao chicote e à mão que o empunha pela deferência em nos escolher como alvo.

A queda da Bastilha selou a Revolução Francesa. Entendi, pela expressão aterrorizada de meu amigo Guillermo, que a Bastilha de nós, homens, é o controle remoto. Ao perdê-lo, perdemos tudo. É o último reduto do homem que não se rende, a sua Excalibur. A derradeira esperança, a tocha trêmula numa escuridão espessa.

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