A noite em que os soldados de Moro e os funcionários de Skaf violentaram a Paulista. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 17 de março de 2016 às 20:38
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Fotos Pedro Zambarda

 

Bombas caseiras de manifestantes antipetistas foram jogadas em Brasília, num protesto que foi transmitido ao vivo pelo deputado Eduardo Bolsonaro, o filho do mito, e a palavra impeachment cedeu espaço para um pedido de renúncia.

De acordo com a Folha de S.Paulo, dezesseis cidades se manifestaram na noite de 16 de março, logo após o vazamento do grampo da presidente Dilma e do ministro Lula através das mãos do juiz Sergio Moro direto para a Rede Globo.

Em São Paulo, a PM estimou o comparecimento de 5 mil manifestantes que se concentraram na região da estação de metrô Trianon-MASP. De acordo com um funcionário da Fiesp que pediu anonimato ao DCM, o presidente Paulo Skaf convocou seus empregados e fez pressão para a mobilização na frente da sede da federação na Avenida Paulista.

Na projeção digital no edifício da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo a frase “renúncia já” aparecia numa faixa preta sobre as cores verde e amarela.

A repórter Janaina Garcia, da CBN, flagrou, por volta das 20hrs, um grupo agredindo o casal Isadora Schautte e Lucas Brasileiro. Os antipetistas, furiosos, disseram no pé do ouvido da garota que “Lula deveria ser preso”.

Ela não concordou e a agressão começou, inclusive acertando o nariz de seu namorado Lucas a ponto de sair sangue.

O que eu presenciei na Paulista foi um clima de tensão misturado com um bem-estar cívico superficial. Dentro da estação Consolação de metrô já era possível escutar os manifestantes gritando “fora Dilma” e “Lula vai tomar no cu”. Eventualmente alguém soltava “Dilma é uma vaca”.

A concentração na Trianon tornava complicada a movimentação perto da Fiesp. Lobão esteve no local, fazendo discursos e chamando mais pessoas pelas redes sociais.

No Facebook, Skaf fez um post patrocinado para as convocações naquele horário, sem muita organização exceto para com seus funcionários.

Mas a multidão ali dava uma falsa sensação de que tudo estava cheio. Indo na direção da Consolação, a frente do Conjunto Nacional e da Livraria Cultura estava razoavelmente livre. No sentido Paraíso, parte da pista foi liberada para alguns passarem. A PM controlava a ida e a volta dos manifestantes.

A psicóloga Kátia Regis, de 52 anos, se esquivou quando perguntei o que ela achava de não existir investigações ainda sobre as contas no exterior de Eduardo Cunha, além de ter dado uma risada forçada quando mencionei Aécio Neves.

“Olha, nós somos contra toda a corrupção. Toda mesmo! Mas quem rouba mais é o PT”, frisou. Pedi então para tirar uma foto com ela. “Não, prefiro não tirar”, falou, dando outro sorriso e se afastando correndo.

Um amigo de Kátia, chamado Silvio, não me deu sobrenome e nem idade. Perguntei para ele, então, o que achava da Rede Globo ter divulgado um grampo do juiz Sergio Moro depois da nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil. “Querido, pra mim é estranho o Lula e a Dilma aparecerem nesses grampos, não a mídia”, falou, puxando a amiga e apertando o passo.

“Acho que o PT roubou muito mais do que o PMDB ou o PSDB. Não tem nada a ver esse lance de esquecer o Aécio”, me disse João Vitor, que tem 23 anos.

Dentro do metrô Trianon, enquanto gritavam “Lula na cadeia”, alguém soltou: “Aécio, Renan e Cunha também”.

Às 22hrs, ergueram o Lula Inflado no cruzamento da Paulista com a Pamplona, quase no mesmo local em que os Revoltados On-Line protestaram no dia 13. A manifestação prosseguiu até a madrugada, regada a cerveja, pipoca, hot-dogs e até fogos de artifício disparados na frente do MASP.

Os manifestantes levaram faixas e corriam de um lado para o outro quando começou a esvaziar. Um cartaz com os dizeres “o povo apoia a Lava Jato” era levado ao som das palavras de ordem contra Dilma: “Renuncia! Renuncia! Renuncia!”.

Próximo do Inflado, havia cartazes com a foto da Dilma na época da ditadura militar com uma suástica nazista no pescoço e o número 666 na testa. Os autores estavam vestidos com roupas camufladas, imitando militares.

Alguns motoristas buzinavam em apoio. A única exceção foi um fusca azul próximo da Brigadeiro Luís Antônio. “Grita, filhos das putas”, berrou o motorista. Os manifestantes deram risada.

Perto da meia noite, ouvi de orelhada uma conversa entre duas senhoras. “Já reparou que todos os ministros da Casa Civil são uns bandidos? O José Dirceu, o Palocci, a Dilma e agora o Lula!”.

Como sobra raiva dos antipetismo nas ruas, há um clima de vale tudo contra o PT.

Alguns mais exaltados diziam que os sindicatos são “vagabundos” por marcarem protestos em dia de semana com pão com mortadela — dia 18 haverá um ato em apoio ao governo.

Bastou Moro vazar um grampo para a Globo para seus soldados fecharem a Paulista numa quarta-feira. Só que sem sinal de borrachada da Polícia Militar, como acontece nos protestos de estudantes.

 

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