A nova China e o velho jornalismo

Atualizado em 19 de novembro de 2010 às 11:44

Percebo uma ignorância desumana no Brasil sobre a China.

A revolução pacífica dos últimos 30 anos, que está prestes a tornar a China a maior potência do mundo, é nebulosa para os brasileiros. Sob deng Xiao Ping, os chineses incorporaram práticas do capitalismo a partir de 1989. Foram incentivados a montar negócios e a enriquecer – mas não a roubar. Isso é sempre lembrado na mídia oficial chinesa. Crimes de corrupção são duramente punidos lá, como se viu no notório caso da Rio Tinto, uma mineradora angloaustraliana que prevaricou em sua operação na China. Os executivos  pilhados foram presos e o dinheiro roubado foi confiscado.

Mais rigor nas penas de corrupção no Brasil não seria má idéia, aliás.

Bem. Você lê o noticiário sobre a China e enxerga outro país, bem pior. A Folha de hoje diz que uma chinesa foi presa porque usou o twitter. Não foi isso. Ela colocou no twitter uma mensagem que estimulava a violência. Dizia, a propósito dos atritos entre China e Japão, que os chineses poderiam destruir o pavilhão japonês na feira de Xangai.

Era uma brincadeira, aparentemente.

Mas em tempos  turbulentosdeve-se tomar cuidado com certas brincadeiras. Na Inglaterra, há poucos meses, um homem foi detido porque falou no telefone coisas que foram entendidas como uma ameaça de ataque ao aeroporto de Heathrow. Era na verdade um desabafo de um consumidor irritado, mas ele teve que explicar isso na polícia.

Pela lógica da Folha no caso da tuiteira chinesa, ele foi detido por usar o telefone.

A missão mais sagrada da mídia é trazer clareza onde haja confusão. É triste, como ocorre com frequência no noticiário brasileiro sobre a China, que se crie confusão onde existe clareza.