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A nova guerra dos grampos da Lava Jato. Por Moisés Mendes

Moro e Dallagnol. Foto: Reprodução/BandNews/Twitter

Publicado originalmente no blog do autor

Sergio Moro e Deltan Dallagnol tinham uma relação de chefe e de subalterno na Lava-Jato. É o que aparece nas conversas divulgadas pelo Intercept no ano passado, mesmo que o juiz e o procurador não devessem ter comando e subordinação funcional.

Dallagnol era obediente a Moro, a quem consultava e a quem se submetia. Essa relação talvez fique mais clara se a Procuradoria-Geral da República chegar ao sistema de grampos que os procuradores usavam em Curitiba.

A engrenagem dos grampos é a motivadora da guerra entre a procuradora Lindora Araujo, de Brasília, e a turma de Curitiba. Lindora pretendia, na visita que fez na semana passada ao pessoal de Dallagnol, puxar o fio do esquema de arapongagem do MP. Eles teriam gravado todas as conversas de quem falava com os procuradores em cinco anos de Lava-Jato.

Quem eles grampearam? Pode o MP ter equipamentos para gravar quem bem entende? Como saber o que grampearam, se dois dos três equipamentos usados para as escutas teriam sumido de Curitiba? Para onde foram?

A guerra envolve os interesses dos Bolsonaros contra Moro e os lavajatistas, mas o que importa é que temos agora uma guerra entre eles.

Augusto Aras, o chefe de Dallagnol, usou uma palavra forte para tentar enquadrar a turma.

Disse que os procuradores de Curitiba deveriam se submeter às leis, porque “fora disso a atuação passa para a ilegalidade, porque clandestina, torna-se perigoso instrumento de aparelhamento”.

Aparelhamento é a palavra que ronda a Lava-Jato desde o começo, mas pela primeira vez foi usada por um chefe do próprio MP. É uma acusação que poucos faziam ao lavajatismo.

Dallagnol e Moro reinaram por meia década como os xerifes do Brasil. Com equipes próprias. Com orçamento só deles. Com autonomia para grampear quem quisessem.

Com amigos na imprensa, com apoio da Globo. Com liberdade para prender e forçar delações. Com força para ordenar conduções coercitivas. E com poder absoluto para investigar, acusar e condenar sem provas, como fizeram com Lula. E para transformar Moro em ministro da extrema direita.

A investida de Aras pode não dar certo, pela reação corporativa que provoca e porque está claramente vinculada a interesses da família Bolsonaro. Pode ser corroída porque é tão suspeita quanto o que os procuradores faziam em Curitiba.

Mas seria bom se a PGR achasse o que muitos gostariam de encontrar na poderosa república de Curitiba. A PGR poderia desvendar finalmente a história da fundação de Dallagnol com dinheiro da Petrobras.

Talvez encontrem, no que sobrou dos grampos, alguma conversa que esclareça se Moro avalizou a ideia, o que afinal o procurador pretendia fazer com R$ 2,5 bilhões e quem iria administrar a dinheirama.

Estamos todos à espera das revelações dos conteúdos dos novos grampos do lavajatismo. Por favor, não parem com essa guerra.

SUMIRAM

Bolsonaro sumiu. Carluxo, Eduardo e Flávio se esconderam.
Sumiram os generais que apareciam nas manifestações pró-golpe em Brasília. Paulo Guedes desapareceu.

Não havia ministro da Saúde e agora não há ministro da Educação.
Fica complicado derrubar um governo que não existe.

REPROVADO

É só o que falta. O Colégio Estadual Nossa Senhora de Barbacena informar que Carlos Alberto Decotelli não concluiu a 5ª série porque rodou em Moral e Cívica.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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Moisés Mendes

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