A obscena posição da Folha diante de Gilmar Mendes. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 21 de março de 2016 às 10:07
Gilmar com Serra e Armínio Fraga: uma foto para o museu de horrores da Justiça
Gilmar com Serra e Armínio Fraga: uma foto para o museu de horrores da Justiça

Não é fácil trabalhar nas grandes empresas jornalísticas nestes dias, a não ser que você se contente em reproduzir a voz dos donos.

Considere o artigo do colunista da Folha Bernardo Mello Franco neste domingo.

Ele demonstrou exaustão, repulsa mesmo, diante do comportamento de Gilmar Mendes, a quem se referiu pelo apelido de ‘Líder da Oposição no STF’.

Evocou passagens obscenas de Gilmar como um juiz descaradamente militante. Lembrou um vaticínio de Dalmo Dallari sobre Gilmar quando FHC o colocou no STF. (Convém jamais esquecer que foi FHC, com seu republicanismo às avessas, quem inventou Gilmar.)

Bernardo, a cada passagem das monstruosidades jurídicas de Gilmar, arrematava: “Mas ele não parece preocupado.”

Não parecia preocupado, por exemplo, ao ser pilhado num almoço com Serra e Fraga no mesmo dia em que mais uma vez usou sua toga para atacar Lula.

Uma foto daquelas e um juiz de qualquer corte suprema do mundo estaria, no dia seguinte, impedido, debaixo de vômito generalizado na sociedade.

Isso tudo quer dizer: os jornalistas da Folha sabem, como Bernardo Mello Franco, que Gilmar envergonha a Justiça.

Mas e a Folha, “um jornal a serviço do Brasil”?

A Folha publica três editoriais por dia. Isso dá cerca de mil no ano. Mesmo assim, nunca a Folha cobrou compostura de Gilmar num editorial. Nunca ombudsman nenhum exigiu que o jornal se pronunciasse sobre o tema.

É uma prova contundente do pluralismo farisaico da Folha. A verdade é que Gilmar faz coisas que agradam aos Frias. Jogam ambos no mesmo time, ainda que de forma diferente.

Não fosse isso, um jornal “a serviço do Brasil” denunciaria com vigor o trabalho sujo de Gilmar.

Ele não faz mal apenas para Lula, ou para Dilma, ou para o PT. Ele faz mal para a Justiça, para a democracia, para o senso de decência que deveria dominar a magistratura nacional.

Num jogo de futebol, Gilmar é aquele juiz que não se contenta em favorecer seu time, apenas. Faz questão de comemorar, com os jogadores, cada gol marcado.

O futebol erradicou esse tipo de árbitro. Mas a Justiça brasileira não, por incrível que pareça.

Um dia a posteridade se perguntará como uma aberração como Gilmar Mendes pôde macular durante tanto tempo a Suprema Corte brasileira.

Uma das respostas será a cegueira proposital da imprensa.

Para o artigo de Bernardo Mello Franco ficar completo faltou apenas ele acrescentar o seguinte ao bordão segundo o qual Gilmar não parece preocupado: meu jornal também não.