
Ao final de um discurso agressivo e repleto de autoelogios ridículos, Donald Trump mencionou o breve encontro com Luiz Inácio Lula da Silva nos corredores da ONU: “nós nos abraçamos… ele gostou de mim, eu gostei dele… tivemos excelente química”. A frase soou como uma capitulação do Calígula do Norte à grandeza moral de Lula.
O contraste foi avassalador. No mesmo salão onde Lula discursara em defesa da soberania nacional e da democracia brasileira, o que se viu no discurso de Donald Trump foi um vômito fascista: ataques ao multilateralismo, mentiras sobre ciência e clima, hostilidade contra imigrantes e agressões gratuitas à ONU.
Trump falou para a minoria radicalizada de seu próprio país e usou o púlpito para dar lições de moral a seus vassalos do mundo rico. Chamou a mudança climática de farsa e atacou a política de energia limpa como “piada”. Disse que países que investem em energia sustentável são frágeis, guiados pelo politicamente correto, e destinados ao fracasso. Transformou a agenda ambiental em arma retórica contra seus adversários, sem qualquer compromisso real com o futuro do planeta.
No tema da imigração, o tom foi ainda mais sombrio. Trump descreveu estrangeiros como ameaça existencial, insinuando que a resposta de seu governo passaria pela repressão implacável, mesmo à custa da vida de pessoas em busca de sobrevivência. Foi a consagração de uma visão marcada pela absoluta falta de empatia humana.
Sobre o Brasil, Trump recorreu a falsidades. Disse que o país teria “taxado” os Estados Unidos e anunciou tarifas pesadas como retaliação. Atacou a independência do Judiciário brasileiro, acusando-o de corrupção e perseguição política, em clara afronta à soberania nacional.
Enquanto isso, Lula afirmara, com clareza e firmeza, que a democracia brasileira é inegociável e que o Judiciário brasileiro é independente. Recordou que a condenação de um ex-presidente da República por golpe de Estado constitui um marco histórico na consolidação da democracia brasileira e uma lição para o mundo. Denunciou o massacre em Gaza, defendeu a paz e reafirmou a soberania dos povos contra imposições unilaterais.
Os dois discursos acabaram por representar mais uma vitória política do presidente Lula, reforçada pelo sucesso das manifestações de domingo contra a anistia. Para o deputado traidor Eduardo Bolsonaro, os elogios de Trump ao petista caíram como uma bomba: o único trunfo que restava era a suposta proximidade entre Jair Bolsonaro e Donald Trump. Com o presidente americano sinalizando simpatia e possibilidade de diálogo com Lula, esse trunfo virou pó.
Publicado originalmente em “O Cafézinho”