A pacificação imaginada por Lula só funcionará se o sistema de Justiça enfrentar os facínoras. Por Moisés Mendes

Atualizado em 20 de dezembro de 2023 às 7:06
O presidente Lula e a primeira-dama Janja. (Foto: Reprodução)

Lula vai pegar Janja pela mão e percorrer o Brasil no ano que vem. Foi o que o próprio presidente disse na live dessa terça-feira com Marcos Uchôa e ao lado de Janja.

É uma decisão aparentemente previsível, considerando-se que 2024 será o ano da reafirmação de Lula e do governo nas eleições municipais.

Para além da questão eleitoral, há diante de Lula o desafio de provar que ele é o primeiro a aderir, com ações, à campanha do governo de que “o Brasil é um só povo”.

Parece moleza, mas não é. A caminhada pela reconciliação passa pela calibragem de discursos e atitudes e pela certeza de que não há como pacificar relações com as estruturas de comando do fascismo.

A caminhada passa pela convicção de que qualquer ideia de paz não pode sugerir leniência com lideranças da extrema direita. E pela imposição do sistema de Justiça diante da impunidade.

Lula disse na live que deseja andar pelo Brasil para que as desavenças sejam superadas. Quem estiver com ódio, que fique pra lá, que vá pra escanteio, foi o que Lula disse.

O presidente deseja que o Brasil seja o país da harmonia. Citou as outras palavras que o definirão: amor, carinho e fraternidade. E prometeu que esses são os sentimentos que serão propagados pelo governo.

Parece conversa de fim de ano, mas é a única possível agora, quando está provado que a polarização sobrevive e que Bolsonaro continua sendo visto como a voz da direita.

Não haverá contradição nenhuma, se o esforço pela pacificação de Lula conviver com o empenho de Ministério Público e Judiciário pela busca da punição e da reparação. Ambos são complementares.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Foto: Reprodução)

Não há conflito algum entre o reconhecimento de que o Brasil cansou e de que é preciso investir na dedicação do sistema de Justiça ao que dará fim a essa exaustão.

Não teremos a paz, a harmonia e a fraternidade buscadas por Lula se não houver efetividade dos que precisam alcançar o núcleo criminoso que esteve por quatro anos no governo.

Enquanto Lula e Janja estiverem na peregrinação pelo Brasil pacificado, policiais, promotores, procuradores e juízes de todas as instâncias terão de dar conta de tarefas acumuladas.

Os criminosos da pandemia, citados na lista com pedidos de indiciamento da CPI, estão há mais de dois anos impunes. Continuam impunes os grandes financiadores do gabinete do ódio.

A estrutura de poder do entorno de Bolsonaro continua intacta, porque Anderson Torres e Mauro Cid eram apenas serviçais desse núcleo inalcançado.

O relatório da CPI do Golpe, com dezenas de militares citados, terá de sair das gavetas do MP, ou não haverá harmonia e a caminhada de Lula e Janja ficará incompleta.

Lula e Janja podem inspirar a eliminação de conflitos, principalmente os familiares, se o sistema de Justiça fizer a sua parte com suas prerrogativas e seus deveres.

Ninguém quer harmonia e paz com os líderes da extrema direita investigada e processada, mas ainda não condenada por seus crimes.

Não há nada que impeça a busca por um país só e, ao mesmo tempo, a resolução de sindicâncias e julgamentos adiados.

A pacificação não acontecerá se Bolsonaro continuar solto. Se os seus oficiais não forem processados, se os manezões ricos que sustentaram o plano do golpe continuarem fazendo fazer valer a força do poder econômico.

Lula a Janja terão cumprido o que o presidente deseja se, ao final de 2024, os chefes da fábrica de genocídio, mentiras, ódio e golpe forem enquadrados e presos. Não haverá pacificação com o facínora solto.

Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes

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