“Bolsonabo”, a paródia de Bolsonaro no programa Pânico, é uma propaganda mal disfarçada. Por Leo Mendes

Atualizado em 17 de dezembro de 2017 às 14:45

De todas as coisas bizarras e degradantes da TV brasileira, o quadro “Mitadas do Bolsonabo”, do programa Pânico na Band, se destaca.

Nele o imitador Marvio Lúcio, o Carioca, faz um ótimo trabalho técnico e a imitação é mesmo bastante parecida com o original. E esse é um dos problemas do quadro.

Não se trata de uma paródia para ridicularizar ou ofender Bolsonaro – como era a que Carioca fazia de Dilma – e sim para enaltecê-lo.

Nela Carioca aparece num palco cercado por homens fortes que as vezes o carregam no colo e gritam repetidas vezes a palavra “mito”, depois que o personagem responde a perguntas feitas pelo público.

O palco é montado numa praça e os passantes se aglomeram para perguntar.

As respostas são um espetáculo grotesco de autoafirmação de um macho troglodita e medíocre, seguidas de rituais de homo erotismo recalcado.

Os alvos são sempre mulheres ou LGBTs.

Coisas do tipo: um troglodita da plateia pergunta se mulher deve poder tirar carteira de motorista, e Bolsonabo responde que não há necessidade de dirigir da sala até a cozinha.

É o suficiente para a claque de trogloditas no palco começa a gritar “mito! mito!”

Carioca é uma espécie de Talentoso Ripley: um exímio imitador e um completo idiota. Admirador de Edir Macedo, Sheherazade e Bolsonaro.

Em entrevista ao seu duplo Danilo Gentili, reclamou que está muito difícil fazer humor em tempos de politicamente correto.

Repete o mesmo mimimi de humoristas medíocres que só sabem fazer piada contra grupos historicamente marginalizados e oprimidos, nunca contra o opressor, com o qual orgulhosamente se identificam.

A velha tática de pisar nos que estão em baixo para tentar se sentir mais altos.

Ou, no caso, mais machos, mais heterossexuais, como se isso de fato fossem virtudes, e não meras características.

Na falta de virtudes, apegam-se ao que tem.

Em um ano que antecede eleições presidenciais em que o segundo colocado nas pesquisas é um fascista defensor da tortura e da ditadura militar, omitir-se diante de coisas como esse quadro do Pânico, é ser cúmplice.

Não basta simplesmente ignorar com desprezo “humoristas” da laia de Gentili e Carioca.  É preciso denunciá-los. Explicar que depois de compreendido o mecanismo que sustenta suas “piadas” elas perdem totalmente a graça. Só despertam desgosto, revolta e incitam a violência.

Ou no máximo fazem com que gente que não tem nada do que se orgulhar, se orgulhe de ser macho, heterossexual.

É algo completamente diferente, por exemplo, do orgulho LGBT. Que surge da necessidade de afirmar o direito à própria existência, ameaçada e diminuída por gente como Carioca, Gentili e Bolsonaro.

Como os idiotas de Nelson Rodrigues, o problema em relação ao macho heterossexual que adora piadas machistas e homofóbicas, é que eles ainda são muitos, o que garante a Gentili e Carioca seus empregos.

Mas vale lembrar que até pouco tempo o orgulho do macho heterossexual se unia ao orgulho de ser branco, e piadas racistas também eram bastante permitidas e apreciadas. Gentili chegou a oferecer uma banana a um homem preto.

Os tempos mudaram um pouco, mas ainda permitimos que mulheres e LGBTs sejam atacados gratuitamente em nome de um humor doentio.

E Bolsonaro aparece em segundo lugar nas pesquisas para presidente.

Nelson Rodrigues disse que os idiotas vão dominar o mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade – eles são muitos.

Combater e denunciar coisas como Carioca e Gentili  é um meio de evitar que Nelson Rodrigues esteja certo.

Mais provável que já tenha ficado provado que ele estava, e nos resta agora tentar reverter esse quadro.