A “PEC das Cadeiras Negras” e o temor de Rachel Sheherazade

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:26

A âncora do SBT Rachel Sheherazade fez um comentário apocalíptico sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece cotas raciais para deputados federais e estaduais. Ela diz que o país é “mestiço” e “se formos dividir o Brasil em cotas, em guetos, não seremos uma nação, mas um retalho de um país”.

Enquanto as cotas em universidade atingem um grupo social restrito (os candidatos às vagas), no caso das cotas parlamentares a questão estará nas mãos do eleitorado, composto por homens e mulheres dos mais diversos perfis econômicos e culturais. Como envolve mudanças no método de votação, a discussão sobre o assunto tem tudo para ser animada, envolvendo da dona de casa ao executivo. É esperar para ver.

É disso que o problema racial precisa, ser explicitado e discutido. Canso de escutar pessoas dizendo que no país não há racismo, que aqui todas as etnias convivem em harmonia e a escravidão ocorreu há muitos anos e por isso não é a causa da exclusão de jovens negros nas universidades.

As nossas tensões raciais precisam ser explicitadas. Há séculos o racismo brasileiro se mantém disfarçado, sob a desculpa de que nossa formação cultural é marcada pela miscigenação e pela convivência harmônica entre os diferentes tons de pele.

Somos um país mestiço e com a maior população negra fora da África, mas a nossa principal top model, Gisele Bündchen, tem traços germânicos. Que mestiçagem é essa em que negros, índios e orientais são retratados na mídia geralmente de forma pejorativa ou estereotipada?

Como deixar de pensar em racismo quando a grife Forum faz um desfile no São Paulo Fashion Week inspirado na África e não leva para a passarela nenhuma modelo negra?

O próprio Congresso Nacional fica longe de representar a composição étnica do país. Segundo o autor do texto do projeto de emenda, deputado Luiz Alberto (PT-BA), uma análise superficial diz que menos de 5% deles são negros.

“Neste país, todo cidadão é igual perante a lei, digno das mesmas oportunidades, seja branco, negro ou índio”, brada Rachel Sheherazade. Mas ela sabe muito bem como as estatísticas sociais são díspares quando comparamos brancos a negros e índios.

A “PEC das Cadeiras Negras”, como a proposta está sendo chamada, não é perfeita e precisa incluir a população indígena. Mas é uma arma necessária no combate à discriminação racial no país.