A pegadinha dos marechais. Por Manuel Domingos Neto

Atualizado em 9 de agosto de 2021 às 10:41
Militares

Publicado originalmente no Facebook do autor:

Manuel Domingos Neto

Muita gente de esquerda batendo nos militares por conta das tais promoções ao posto de marechal.

Estas promoções não existem. Para que ocorra uma promoção, algum documento tem que ser assinado por alguma autoridade. O fato de a palavra “marechal” aparecer no “Portal da Transparência” não basta.

Militares, quando no comando do país, já mostraram ser capazes de torpezas e vilanias sem conta. Com Bolsonaro, o despudor das benesses diz tudo. Mas essa “promoção à marechal” é falsa. O cargo não existe em “tempo de paz”. O “Estatuto do Militar” ainda não foi revogado.

Neste caso, as questões que precisam ser respondidas são:

a) Por que o “Portal da Transparência” ofereceu informação falsa, induzindo ao erro?

b) Por que o Ministério da Defesa não agiu em tempo hábil para corrigir o erro?

Até que estas perguntas sejam respondidas, considero que o governo lançou uma pegadinha que enseja aos militares a condição de vítimas num momento em que são duramente desgastados pela aventura trágica em que nos meteram. Conforme o editorial do Estadão de ontem, a eleição de Bolsonaro foi um ultraje à pátria.

Enquanto as atenções se voltam para uma inexistente “farra dos marechais”, outras questões deixam de ser abordadas de frente. Por exemplo, por que os militares não se preparam para enfrentar eventuais agressões estrangeiras? Por que se atribuem tarefas completamente ilegais, como a de opinar sobre o sistema eleitoral

Gastamos muito para ficarmos indefesos. As corporações não têm competência enfrentar agressor estrangeiro. Somos dependentes de fornecedores externos e só poderíamos de fato guerrear com o aval dos Estados Unidos. Em que pese nossa reconhecida capacidade técnica e científica, não produzimos de forma autônoma os aviões, submarinos, escudos de mísseis e aparatos cibernéticos de que precisamos.

A defesa militar do Brasil é uma farsa custosa aos cofres públicos. Isso é o que deve ser denunciado.

Os gastos militares se esvaem com um contingente de generais muito além do necessário. Há benefícios a perder de vista para a tal “família militar”. Imagine o dinheiro gasto para propiciar boa vida para neta de general-ditador? Bote falta de amor à pátria!

As dimensões do Exército, bem como a distribuição de seus efetivos, são incompatíveis com um planejamento sério em defesa militar. Trata-se de uma máquina pesada, ocupada em fazer o que não deve, como posar de polícia de fronteira e guarda ambiental. Fingem ainda de agente de segurança urbana e outras tantas tarefas que deveriam estar nas mãos de agentes civis.

As corporações militares se dilaceram em dilemas originários. Ainda estão por resolver se querem ser militares ou policiais. Seus comandantes insistem vestir a roupa de políticos sem votos, mas com armas.

Não ficarei admirado se a “pegadinha dos marechais” tiver sido engendrada em gabinetes povoados por homens inconsoláveis com a perspectiva da inviabilidade eleitoral de Bolsonaro.