
A repórter Raquel Krähenbühl, correspondente da Globo em Washington, perguntou a Trump se ele iria falar de Bolsonaro no encontro com Lula na Malásia. Trump respondeu, diante de Lula: “Não é da sua conta”.
As redes sociais ficaram irritadas com Raquel por ter enfiado Bolsonaro no encontro. Mas a jornalista fez o certo, mais uma vez.
Bolsonaro é citado na primeira frase da advertência pública ao Brasil, em julho, quando Trump tentou impor o fim do julgamento do golpista.
O chefe da organização criminosa está em tudo o que se fala sobre a chantagem de Trump. Qualquer jornalista faria a pergunta. O tom da resposta prova que a repórter fez seu trabalho.
Trump e Lula respondendo se vão discutir sobre "Bolsonaro":
Lula:
Faz não com a cabeça.Trump:
"Não é da sua conta."É, largou mesmo…. pic.twitter.com/0bK5kobBzB
— Jéferfon Menezes (@JefinhoMenes) October 26, 2025
E outra pergunta pode, então, ser acionada pelas reações à pergunta da correspondente: por que tantas críticas à jornalista?
O que ela fez de errado ao forçar Trump a dizer o que disse?
Em agosto, Raquel obrigou Trump a dizer que conversaria com Lula sobre o tarifaço. E conseguiu arrancar do neofascista uma acusação contra Lula, de que o presidente brasileiro fez “a coisa errada”.
No pátio da Casa Branca, Raquel falou mais alto na gritaria dos colegas e emplacou várias perguntas, nessa sequência:
Raquel Krähenbühl: Você está aberto a negociar com o Brasil? O presidente Lula disse que gostaria de ligar. Se ele pedisse para conversar, você falaria com ele agora?
Donald Trump: Ele pode conversar comigo quando quiser.
Raquel: Você está disposto a negociar as tarifas?
Trump: Sim, ele pode conversar comigo quando quiser.
Raquel: O que está na mesa para o Brasil?
Trump: Vamos ver o que acontece. Mas eu amo o povo do Brasil.
Raquel: Então, por que tarifas de 50%? Elas não parecem ter relação com o comércio.
Trump: As pessoas que governam o Brasil fizeram a coisa errada.
Vou repetir o que escrevi em agosto: viva o jornalismo. Raquel Krähenbühl está brilhando em Washington desde a cobertura da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021.
As contas
Quem é ou foi repórter vive de fazer perguntas. Foi o que eu mais fiz na vida até hoje. Repórter não pode ter medo de perguntas e muito menos de respostas.
Fiz as contas agora, nesses tempos de números inúteis. Considerando que eu tenha feito, em média, pelo menos 30 perguntas por dia — inclusive sábados e domingos — por 50 anos, durante todo o tempo em que fui repórter devo ter feito 500 mil perguntas.
Em alguns dias, um repórter pode fazer até 100 perguntas. Em uma entrevista por telefone, um repórter chega a fazer mais de 30 perguntas para depois aproveitar só uma frase.
É assim que funciona. Repórter só pode afirmar alguma coisa se fizer as perguntas — as certas e as erradas.