A pergunta que Bonner não fez ao prefeito de Porto Alegre. Por Moisés Mendes

Atualizado em 12 de maio de 2024 às 9:34
Sebastião Melo e William Bonner. (Foto: Reprodução)

Sebastião Melo disse o seguinte, em entrevista ao Jornal Nacional nesse sábado, ao responder a uma pergunta de William Bonner sobre a possibilidade de melhoria na legislação ambiental por iniciativa da prefeitura:

“O que não falta ao Brasil são legislações, o que falta mesmo é dinheiro”.

Como não sabe da história ambiental escabrosa a seguir, William Bonner não perguntou ao prefeito de Porto Alegre o seguinte:

Se a prefeitura não tem dinheiro, como o Dmae (Departamento Municipal de Águas e Esgotos), que diz não ter recursos nem para consertar bombas de drenagem da cidade, quer liberar R$ 1,7 milhão a uma loja do véio da Havan?

Se soubesse, Bonner poderia perguntar como, depois do pagamento ser suspenso por decisão do Ministério Público do Tribunal de Contas do Estado, em junho de 2022, esse Dmae sem dinheiro insiste, sustentado por parecer da Procuradoria-Geral do Município, em entregar R$ 1,7 milhão à loja do véio da Havan?

A fortuna, acreditem, seria para compensar danos ambientais na área em que a loja foi construída há três anos na zona norte da cidade.

A empresa ganharia esse monte de dinheiro para consertar danos na área em que se instalou. O dinheiro seria para comprar mudas de árvores. R$ 1,7 milhão para mudas de árvores.

Por que a loja do véio da Havan deve receber um dinheiro que nunca foi pago pela prefeitura a empresa alguma nessas circunstâncias, no que chamam de mitigação de danos ambientais?

A norma é sempre a empresa dona da obra compensar a prefeitura pelas interferência no ambiente alterado pelo empreendimento.

Por que essa inversão inédita entre quem paga e quem recebe? Que desespero é esse do Dmae, sem dinheiro para fazer as obras de contenção das cheias em Porto Alegre, em pagar R$ 1,7 milhão – em operação que o MP do TCE considera mal explicada – à loja do véio da Havan?

Está no site da Havan que o grupo vem recolhendo dinheiro de clientes, nos caixas, do que seria o troco de compras, para doar depois aos gaúchos vítimas das enchentes.

Mas ao mesmo tempo esse mesmo grupo seria beneficiado por uma espécie de doação da prefeitura, através da autarquia que não tem dinheiro para enfrentar as enchentes.

William Bonner poderia ter perguntado, a respeito do caso Dmae-Havan: que história estranha é essa, prefeito?

(Aqui, link para um texto sobre a tentativa da prefeitura de pagar a dinheirama à Havan de qualquer forma, apesar da decisão do TCE).

 

Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/