
O medo foi um dos temas da entrevista de Luis Roberto Barroso ao Roda Viva na segunda-feira. Quando analisou as ameaças a ministros e seus familiares, o presidente do STF referiu-se à sua esposa, já falecida.
Contou que a empresária Tereza Cristina se queixava muito das ameaças que o marido e a família sofriam.
Tereza Cristina enfrentou, ao lado do marido, um episódio nunca enfrentado, em circunstâncias semelhantes, por nenhuma outra autoridade da República até aqui nesse século 21.
Um episódio de medo e terror, que os cinco entrevistadores desprezaram. E o comentário de Barroso sobre os medos da esposa ficou solto, sem amarração, como se fosse uma pauta pedindo socorro aos repórteres.
O que os jornalistas se negaram a relembrar, como exemplo real das ações agressivas do fascismo, aconteceu na noite de 3 de novembro de 2022 (três dias depois da vitória de Lula no segundo turno) e na madrugada do dia 4, na praia de Porto Belo, Santa Catarina.
Barroso e Tereza Cristina jantavam com amigos em um restaurante, no bairro Perequê, numa quinta-feira, quando uma turba bolsonarista cercou o local.
Eram ativistas de extrema direita que participavam do bloqueio de estradas, para impedir a posse de Lula, e foram avisados de que Barroso estava ali.

A Polícia Militar foi chamada e Barroso, a mulher e os amigos deixaram o restaurante. O casal foi para uma casa, na mesma praia, e o prédio foi cercado pelo mesmo grupo, que passou a gritar no meio da rua contra o Supremo e Barroso.
Às 4h da madrugada, ao perceberem que a turba não iria embora, Barroso chamou a PM e ele e a esposa saíram de carro escoltados da cidade até BR-101. Nunca antes uma autoridade havia passado por situação semelhante.
Como o ministro falou da esposa, para relacionar seus medos aos temores sentidos hoje por familiares de colegas, o jornalismo perdeu a chance de saber seu sentimento sobre o ocorrido há três anos.
Com mais um detalhe: Barroso já havia sido entrevistado pelo mesmo Roda Viva, em junho de 2024, e ninguém quis saber do faroeste de Porto Belo.
Ninguém foi preso naquela noite, nem depois, e não há inquérito sofre o caso. O que só facilita a vida de quem pretende repetir episódios como esse.