A pesquisa sobre a chacina não é o que parece. Por Valter Pomar

Atualizado em 3 de novembro de 2025 às 17:05
Mulheres choram após megaoperação no RJ. Foto: Divulgação

Por Valter Pomar

Recomendo fortemente a leitura da pesquisa Genial Quaest acerca da “operação” no Rio de Janeiro.

A pesquisa merece uma crítica técnica, inclusive sobre o uso do termo “operação” e sobre a qualidade das respostas colhidas em situação de medo intenso, mas para facilitar a argumentação vou partir do pressuposto de que os dados e resultados da pesquisa são 100% corretos.

Dentre eles, destaco os seguintes.
Primeiro: 87% acha que o Rio de Janeiro vive uma situação de guerra.
Segundo: 73% da população acha que a polícia deveria fazer “operações como essa” nas comunidades.
Terceiro: 64% da população do estado do Rio de Janeiro apoia a “operação”.
Quarto: 58% acha que a “operação” foi um sucesso.
Quinto: 52% acha que depois da “operação policial”, o Rio de Janeiro está “menos seguro”.
Sexto: quando a pergunta é “qual deveria ser a primeira reação de um policial que está trabalhando e se depara com uma pessoa com um fuzil na mão?”, a resposta que obtém 50% é “buscar prender sem atirar”.
Há uma óbvia contradição entre os quatro primeiros e os dois últimos resultados.
O que comprova que está em curso uma disputa ideológica polarizada, na qual a direita consegue levar vantagem porque ela domina a “narrativa” geral segundo a qual estaria em curso uma “guerra”.
Portanto, é possível à esquerda virar o jogo quando faz predominar o debate em torno dos resultados concretos desta “guerra” e, a partir daí, estabelecer outra “narrativa”: a da segurança pública.
(A direita sabe disto, motivo pelo qual, entre outras coisas, evitou a adequada autópsia dos mortos).
A rigor, a própria pesquisa demonstra que bastaria convencer o eleitorado autoproclamado de esquerda a defender posições de esquerda, que o resultado geral da pesquisa seria bem diferente.
Afinal, segundo a pesquisa, 35% do “eleitorado lulista” e 27% da “esquerda não lulista” aprovam a “operação”.
Enquanto o lado de cá está dividido, o lado de lá é quase monolítico: o apoio à “operação” é quase total na direita (92%) e na extrema-direita (93%).
O que também mostra como, em determinados temas, a extrema-direita polariza totalmente a direita gourmet.
Também pelo exposto mais acima, é tão deletéria a posição de Quaquá & assemelhados: ao declarar apoio à “operação” (que qualquer pessoa honesta em relação aos fatos precisa reconhecer que foi uma chacina) e ao reforçar o discurso de que estaria em curso uma “guerra” (onde a lei é matar), os criptofascistas infiltrados entre nós contribuem para reforçar a direita.
Não se combate os fascistas concordando com eles.

Nem se combate o fascismo, tolerando entre nós o criptofascismo.

Pesquisa Quaest. Foto: Reprodução
Pesquisa Quaest. Foto: Reprodução
Pesquisa Quaest. Foto: Reprodução
Pesquisa Quaest. Foto: Reprodução
Pesquisa Quaest. Foto: Reprodução
Pesquisa Quaest. Foto: Reprodução
Pesquisa Quaest. Foto: Reprodução