A PM heroína e o delegado morto após reagir a assalto no Morumbi. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 15 de maio de 2018 às 12:24

Armas de fogo estão nas manchetes da semana como metralhadoras – com a licença do trocadilho duvidoso.

Depois do episódio da PM que matou um assaltante a tiros em Suzano, o delegado Mauro Sérgio Salles Abdo.trocou tiros com dois homens que invadiram a sua casa numa tentativa de roubo no Morumbi,  e não teve um final tão feliz quanto o da mãe PM: foi atingido no abdômen e morreu no hospital. Um dos suspeitos também saiu ferido.

Em outro assalto a uma mansão de luxo também no Morumbi, dez suspeitos morreram em troca de tiros em setembro do ano passado.

Ilude-se quem não enxerga a guerra urbana que se instala cada vez mais vertiginosamente no país, e o armamento seria oferecer irresponsavelmente subsídios para essa guerra.

“Armar o cidadão de bem” para autodefesa como enfrentamento à violência usando artefatos que existem para produzir a violência é, no mínimo, contraditório.

Em um confronto com armas, alguém sempre sairá morto ou, com sorte, ferido.  No caso da mãe PM, o assaltante. Neste caso, o delegado – e em ambos os casos a violência e a carnificina são igualmente lamentáveis.

Os defensores do armamento inventam mil argumentos: “A regulamentação do porte de armas tem que prever treinamento e testes de aptidão”, “tem que ter psicoteste”, “ninguém vai sair atirando por aí.”

O treinamento para o manuseio de armas de fogo – ao qual também se submetem delegados da polícia civil e federal – não garante a segurança de ninguém em um país violento, muito pelo contrário: armas só servem para materializar – nocivamente – a violência, como provam exaustivamente os últimos acontecimentos (no Brasil e no mundo, para lembrar dos atiradores das escolas nos Estados Unidos).

Enfrentar a violência não é armar todo mundo e aguardar o desenrolar do caos. Uma sociedade não pode se tornar um “salve-se quem puder” do ódio.

A segurança pública existe – embora não pareça – para que mães não precisem matar na frente da escola de suas filhas e homens não precisem morrer ao reagir a assaltos dentro de suas casas.