A política e os políticos segundo Maquiavel

Atualizado em 21 de novembro de 2012 às 20:35

 

É melhor ser temido que amado

Em tempos eleitorais, vale a pena voltar a Maquiavel, autor de O Príncipe, escrito em 1513 e publicado em 1532. Meio milênio passado, a obra de Maquiavel mantém o vigor de um adolescente. Por isso o convocamos para a nossa série Conversas com Escritores Mortos.

Senhor Maquiavel, para iniciarmos nossa conversa, gostaria de informá-lo que o Brasil acaba de passar por mais um sufrágio, no qual foram eleitos  prefeitos e vereadores. Foi uma campanha política bastante acirrada…

O desejo de conquista é coisa, de fato, muito natural e comum; e, sempre que os homens conseguem satisfazê-lo, são louvados, nunca recriminados. Mas quando não conseguem e querem satisfazê-lo de qualquer modo, aí estão o erro e a recriminação.

De uma forma geral, os candidatos mais se atacaram uns aos outros do que debateram projetos de governo? O que o senhor pensa disso?

Um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das ameaças verbais ou insultos.

É, mas isso (insultos e ameaças) é bastante comum. E o que é pior: muitas pessoas votam em candidatos com essa postura mesmo assim!

Os homens em geral formam suas opiniões guiando-se antes pela vista do que pelo tato, pois todos sabem ver, mas poucos sentem. Cada qual vê o que parecemos ser; poucos sentem o que realmente somos. Além do mais, os homens são tão simples que quem quer enganar sempre encontra alguém que se deixa enganar.

O senhor acha que num político é melhor a cautela ou a impetuosidade?

É melhor ser impetuoso do que dotado de cautela, porque a fortuna é mulher e consequentemente se torna necessário, querendo dominá-la, bater-lhe e contrariá-la; e ela mais se deixa vencer por estes do que por aqueles que procedem friamente.

Se o senhor fosse um governante, preferiria que o amassem ou que o temessem?

É muito mais seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto os governantes lhes fizerem bem, oferecem a eles o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos. Mas quando as necessidades se avizinham costumam se revoltar.

Por isso então o senhor afirma que é melhor ser temido que amado. Se entendi direito, não há apoio sem alguma medida de interesse pessoal, certo?

As amizades que se adquirem por dinheiro, e não pela grandeza e nobreza da alma, são compradas, mas, com elas não se pode contar e, no momento oportuno, não é possível utilizá-las.

Mas essa é uma prática bem corriqueira, “compra de apoio”…

O que nos fornece uma pista, um excelente método para avaliar um governante.

Que seria?

A observação atenta dos homens que cercam esse governante.

Sábias palavras! Para finalizarmos, há algo que o senhor possa dizer sobre o processo eleitoral?

Certamente. Há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis.

Senhor Maquiavel? Agradeço a atenção dispensada ao Diário e tenho uma palavra para suas reflexões: elas são solares.