A popularidade de Bolsonaro é ameaçada com o fim do auxílio emergencial. Por Moisés Mendes

Atualizado em 31 de agosto de 2020 às 9:47
O presidente Jair Bolsonaro participa de entrevista coletiva no Ministério de Minas e Energia, em Brasília – (Sergio Lima – 15.jan.2020/AFP)

A questão inquietante para as esquerdas, enquanto se aproxima a primavera, não é se Bolsonaro vai ou não voltar a ser o que era antes da prisão de Queiroz e das advertências do Supremo para que cuidasse dos filhos e também parasse de brincar com a ameaça de golpe.

O velho Bolsonaro do agora basta não existe mais. Mas como ele irá se comportar se perder o apoio que conquistou com a ajuda dos R$ 600, quando o povo não dispuser mais do dinheiro?

Bolsonaro e os militares não têm a mínima chance de voltar a ameaçar com a interferência das Forças Armadas como poder moderador.

A turma de Sara Winter pode até voltar a fazer atos golpistas na Esplanada dos Ministérios. Os garotos podem continuar ameaçando pelas redes sociais. O Gabinete do Ódio pode continuar operando dentro do Planalto, apesar de já ter sido flagrado.

Mas não há como Bolsonaro voltar a ser o Bolsonaro dos blefes. Ele vai ameaçar jornalistas, mandar recados à oposição, vai ampliar a atuação dos seus arapongas, mas não será mais o mesmo de antes de 18 de junho, quando Queiroz foi preso.

A imitação de Bolsonaro mais próxima do antigo Bolsonaro talvez se manifeste, por estresse, nos próximos meses. Acontecerá quando for interrompido o auxílio emergencial e ele ainda não tiver o retorno do programa de renda mínima, se conseguir implantá-lo.

O programa pode ter impacto maior do que o Bolsa Família, mas não substitui o auxílio emergencial criado na pandemia.

O auxílio equivale hoje a um pleno emprego temporário para a população de baixa renda. Beneficia mais de 64 milhões de pessoas.

Menos da metade desse contingente terá acesso à renda mínima. Com o fim do auxílio, serão pelo menos 30 milhões de pessoas devolvidas a um mercado que não existe mais.

O desalento dessa gente será o grande desafio para Bolsonaro, depois da melhoria na imagem do sujeito com o socorro dos R$ 600.

Qual é o real apoio de Bolsonaro hoje e que tamanho terá esse apoio até o fim do ano? O presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, acha que a popularidade de Bolsonaro na última pesquisa do Datafolha está superestimada.

Coimbra entende que o Datafolha erra, ao fazer a consulta apenas por telefone. Seria uma amostragem com grande chance de estar esquentada. Bolsonaro não teria a provação de 37%.

A aprovação seria de quanto? Chegamos ao momento em que, por desorientação, desconfiamos até das pesquisas. Bolsonaro, que não sabe de nada do que se passa no governo, entusiasmou-se com a ideia de que será o Lula da direita e sairá a inaugurar as obras iniciadas por Lula e Dilma.

Vai inaugurar obras até a eleição. Mas no meio do caminho pode ter o impacto do fim do auxílio. Esse é o mistério. O que será de Bolsonaro com um povo de 30 milhões de pessoas sem os R$ 600?