A postura ambígua que Tarcísio deve manter até 2026, segundo cientistas políticos

Atualizado em 13 de outubro de 2025 às 11:25
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: Reprodução

A postura ambígua do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deve continuar até as eleições de 2026, segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo. Entre acenos a moderados e discursos alinhados ao bolsonarismo, o governador tenta equilibrar duas frentes políticas para manter a viabilidade nacional e preservar o apoio de Jair Bolsonaro (PL).

No 7 de Setembro, Tarcísio atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) e chamou o ministro Alexandre de Moraes de “tirano”. Também defendeu Bolsonaro como “o candidato de 2026” e cumprimentou apoiadores na Avenida Paulista como se estivesse em campanha.

Semanas antes, havia intensificado a agenda política, com viagens e reuniões que reacenderam especulações sobre uma candidatura presidencial. Dias depois, no entanto, suavizou o discurso e elogiou a Justiça Eleitoral, reforçando a disposição de disputar a reeleição em São Paulo.

Para analistas, essa oscilação entre o pragmatismo e o alinhamento ideológico é calculada. “Tarcísio vai ter de continuar ‘kassabeando’, com os pés em duas canoas”, disse Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político da FGV, em referência a Gilberto Kassab, que integra o governo paulista enquanto seu partido, o PSD, participa da base de Lula (PT) em Brasília.

Fidelidade a Bolsonaro

A estratégia de Tarcísio, avaliam os especialistas, é manter-se próximo da base bolsonarista sem afastar o eleitorado de centro.

“É uma situação de ambiguidade. Tarcísio não quer perder os votos dos bolsonaristas e sabe que, se quiser competir com chances, precisará desses votos. Mas também entende que uma guinada radical vai provocar a perda do eleitorado de centro”, afirmou José Álvaro Moisés, cientista político da USP.

Moisés ressalta que a condenação de Bolsonaro pelo STF não eliminou o bolsonarismo e pode até reforçar a narrativa de perseguição. “Não creio que necessariamente a condenação vai afastar o radicalismo. Essa ideia de que o bolsonarismo está sendo perseguido pode recrudescer o movimento”, disse.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), visita o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está em prisão domiciliar em Brasília. Foto: Reprodução

Histórico de pragmatismo político

A ambiguidade, segundo analistas, não é novidade na trajetória de Tarcísio. Em 2014, ele integrou o governo Dilma Rousseff (PT) como diretor do Departamento de Infraestrutura de Transportes. Cinco anos depois, tornou-se ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.

Com o apoio de Bolsonaro, Tarcísio chegou ao Palácio dos Bandeirantes, mas desde então tenta ampliar sua base política. A busca por um discurso mais moderado reflete a necessidade de dialogar com diferentes setores da sociedade sem romper com o eleitor conservador.

Apoio político e estrutura partidária

Para disputar o Planalto, Tarcísio precisaria de uma base sólida no Congresso. Ele já conta com o apoio da federação entre o União Brasil e o PP, que pode reunir 109 deputados e 15 senadores — a maior força legislativa do país, com fundo eleitoral de cerca de R$ 1 bilhão.

“As lideranças de direita vão rivalizar para ver quem detém mais fatias do bolsonarismo, que reuniu pessoas muito diferentes”, avaliou a antropóloga Isabela Kalil, coordenadora do Observatório da Extrema Direita.