A proposta de Maduro a Trump para evitar guerra no Caribe

Atualizado em 26 de setembro de 2025 às 17:36
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, e Donald Trump, dos EUA. Foto: reprodução

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez uma oferta inédita ao governo de Donald Trump: colaborar na localização dos chefes mais procurados do cartel de drogas Tren de Aragua. A informação foi divulgada pela agência Bloomberg nesta sexta-feira (26) e representa uma tentativa de Caracas de retomar o diálogo com Washington em meio a uma escalada militar no Caribe. A proposta teria sido encaminhada no início de setembro, logo após os Estados Unidos mobilizarem tropas para operações antinarcóticos na região.

A iniciativa foi acompanhada de uma carta enviada por Maduro a Trump, na qual o líder venezuelano pede a abertura de um canal de conversação direto para reduzir as tensões bilaterais.

O documento, datado de 6 de setembro e cujos detalhes foram vistos pela Reuters, foi remetido quatro dias após o primeiro ataque estadunidense a uma embarcação venezuelana, que resultou na morte de 11 pessoas. Na missiva, Maduro rejeita as alegações de que a Venezuela tenha um papel central no tráfico de drogas, argumentando que “apenas 5% das drogas produzidas na Colômbia são enviadas por meio da Venezuela” e que “70% das drogas foram neutralizadas e destruídas pelas autoridades venezuelanas”.

“Presidente, espero que juntos possamos derrotar as falsidades que têm manchado nosso relacionamento, que deve ser histórico e pacífico”, escreveu Maduro na carta.

O venezuelano também se mostrou aberto a negociar através do enviado especial Richard Grenell, afirmando que “essas e outras questões estarão sempre abertas para uma conversa direta e franca com seu enviado especial (Richard Grenell) para superar o ruído da mídia e as notícias falsas”.

Membro do Tren de Aragua preso nos EUA. Foto: reprodução

Maduro destacou que o canal com Grenell, que ajudou a resolver questões sobre deportação de migrantes, tem funcionado “perfeitamente”. Fontes confirmaram que os voos de deportação para a Venezuela continuam ininterruptos, duas vezes por semana, mesmo após os ataques.

A Casa Branca não comentou imediatamente a proposta. A oferta de cooperação ocorre em um contexto de crescente pressão militar. No sábado (20), Trump intensificou sua campanha em uma postagem na rede Truth Social, alertando que a Venezuela deve aceitar o retorno de todos os prisioneiros que, segundo ele, foram forçados a ir para os EUA, sob pena de pagar um preço “incalculável”.

Na sexta-feira, o governo estadunidense anunciou o que seria pelo menos o terceiro ataque a uma suposta embarcação de drogas venezuelana, resultando na morte de “três homens narcoterroristas”, conforme declarou Trump sem apresentar provas.

O governo venezuelano nega veementemente qualquer vínculo de suas autoridades com gangues de drogas e afirmou que nenhuma das vítimas do primeiro ataque pertencia ao Tren de Aragua. Maduro tem reiterado que o objetivo final dos Estados Unidos é removê-lo do poder.

Em sua carta a Trump, ele classifica as acusações como “o exemplo mais flagrante de desinformação contra nossa nação, com a intenção de justificar uma escalada para o conflito armado que infligiria danos catastróficos em todo o continente”. Trump, por sua vez, negou publicamente interesses em uma mudança de regime, mesmo após Washington ter dobrado a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro para 50 milhões de dólares.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.