A prova vazou, mas o cachê de Sergio Moro continua secreto. Por Moisés Mendes

Atualizado em 5 de agosto de 2019 às 15:22
Sergio Moro durante palestra

POR MOISÉS MENDES

O site do jornal NH, do Grupo Sinos, não tem uma linha sobre a controvérsia em torno da agora famosa palestra de Sergio Moro em 2016, no Teatro Feevale, em Novo Hamburgo. A palestra foi promovida pelo Grupo Sinos.

Procurei e não achei uma linha sobre o caso, nada. O que há sobre Sergio Moro é uma notícia sobre o apoio de juízes evangélicos à apelidada Portaria da Besta, a portaria 666, em que o ministro trata da extradição de “pessoas perigosas”.

Essa informação sobre os juízes evangélicos foi postada na capa do site do NH, como mostra o horário da edição da notícia, às 16h48min de sexta-feira.

O jornal não informa aos seus leitores que uma palestra promovida pelo grupo que edita o jornal está no centro da nova confusão envolvendo o ex-juiz.

Como a Folha revelou no domingo, Moro deveria, por determinação do Conselho Nacional de Justiça, informar aos seus superiores que a palestra havia sido paga. Não informou. Esqueceu-se.

No domingo à tarde Moro foi ao Twitter dizer que pedira ao Grupo Sinos, na época da palestra, que doasse R$ 10 mil a uma entidade que dá assistência a pessoas com deficiência.

Mas ninguém esclareceu o que importa, nem o ex-juiz, nem o grupo que promoveu a palestra. Até agora não se sabe se Moro ficou com uma parte do cachê, não revelado ao TRF4, ou se doou tudo à entidade.

A doação parece ser o álibi do palestrante, mas um álibi frágil, que qualquer juiz desmontaria.

Como Moro disse em mensagem a Dallagnol, em 2017, que havia sido bem pago pela palestra, fica a dúvida. Bem pago com R$ 10 mil? O chefe da Lava-Jato, o líder da turma do Dallagnol, ficava satisfeito com um cachê de R$ 10 mil.

O Grupo Sinos poderia ajudar a esclarecer, em nome da transparência. Não se trata de cumprir lei ou norma, mas de ser transparente, como o ex-juiz queria que fossem os réus da Lava-Jato.

Para provar que é filantropo, magnânimo e diferente, o ex-juiz deve autorizar o Grupo Sinos a informar quanto pagou pela palestra que manteve em segredo do Judiciário como evento remunerado.

A informação sobre o apoio dos juízes evangélicos a Moro é uma notícia velha. O NH deve dar notícia nova.