A pusilanimidade de Temer desconstrói a ideia de ‘sexo forte’. Por Nathali Macedo

Atualizado em 25 de maio de 2016 às 23:09

Captura de Tela 2016-05-25 às 23.05.38

Lá em casa a última palavra sempre foi da minha mãe. Ela tinha o pulso mais forte, dizíamos, e com toda a doçura do mundo conseguia nos conduzir impecavelmente, enquanto meu pai se curvava diante de nossas carinhas de cachorro pidão. Nos deixava sempre fazer o que quiséssemos, e por ser tão liberal e por tantas vezes complacente, jamais havia embate entre nós.

Sabíamos que a minha mãe poderia ficar com a parte chata, com o estigma de mão-de-ferro, e sabíamos, sobretudo, que ela seria capaz de aguentar nossa rebeldia adolescente.

Sabíamos, noutras palavras, que nossa mãe era sexo forte (como sabemos e comprovamos até hoje).

Talvez por isso – certamente por isso – nunca consegui enxergar a tal fragilidade feminina, e não me ocorre nenhuma razão para tentar enxergá-la, muito menos agora, quando temos um exemplo de uma Presidenta eleita de grelo duro e de um presidente interino, digamos, frágil.

Dilma foi xingada de sapa gorda, vaca, vagabunda. Teve sua foto exposta, de pernas abertas, em milhares de carros de brasileiros. Viu sua vida sexual ser especulada por uma mídia canalha. Ouviu todo um estádio de futebol mandá-la tomar no cu. Viu sua imagem photoshopada numa capa de revista que a comparava com “Maria, a louca”, foi chamada de incompetente e corrupta e quando tentou arrumar a casa foi apunhalada pelas costas.

Mas isso não é nada pra quem foi torturada pelo Regime Militar na juventude, voltou trinta anos depois e virou Presidenta. Ela, o sexo frágil, aguentou firme e os golpistas não admitem mulheres que aguentam firme. Resistência, pra eles, é um insulto.

Temer, o interino, não aguentou sequer uma semana dos intensos manifestos populares. Está indignado, coitado. Marcelinha chora de medo. “Mi” diz estar psicologicamente abalado. Tão acostumado a ser decorativo que não suporta a ideia de ser protagonista quando o assunto é ser detestado.

Dilma foi detestada porque foi vítima de uma conspiração. Michel Temer, por sua vez, é o homem mais detestado do país porque é golpista e oportunista. E adivinhem quem pediu arrego?

Ele, o sexo forte, a quem jamais foi atribuído qualquer adjetivo que não fosse perfeitamente cabível e observável. Ele, que não foi torturado e não foi chamado de louco.

Para a tão superestimada masculinidade, o arrego de Temer só é menos vergonhoso do que o de Maranhão, que não resistiu nem por doze horas.

A presidenta eleita foi vítima de uma conspiração impiedosa porque, como sexo forte que é, ela ficou com a parte chata. E agora o conspirador-mor é que tem a pachorra de se sentir intimidado.

Quem nasceu pra oportunista pusilânime nunca será coração valente.