Brasil

A quem interessa sabotar o Fora Bolsonaro?

Manifestação no Rio de Janeiro foi provavelmente a maior deste sábado de Fora Bolsonaro

Publicado originalmente em Rede Brasil Atual

A terceira jornada de manifestações pelo Fora Bolsonaro – o #3JForaBolsonaro – foi a maior delas, desde que os movimentos decidiram voltar às ruas, em #29 de maio e 19 de junho. Acontece que, diante do crescimento da adesão às manifestações, crescem também as tentativas de desqualificá-las. Fica a questão: se a rejeição a Bolsonaro é crescente, segundo todas as pesquisas, a quem interessa desviar o foco do sucesso do Fora Bolsonaro? Quem ganha com “tumultos”, depredações e agressões, como aquelas ocorridas ontem na Rua da Consolação, quando o ato de São Paulo caminhava para o encerramento?

É importante lembrar que nos primeiros atos, em 29 de maio, o único registro de fuga do roteiro pacífico dos protestos ocorreu em Recife, e por iniciativa policial. Quem não recorda da cena da covardia do policial lançando spray no rosto da vereadora petista Liana Cirne a centímetros de distância? Na ocasião, integrantes da Polícia Militar de Pernambuco agrediram manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e sprays de pimenta, agindo à revelia das orientações de governo. Como era de se esperar, tanto o governador Paulo Câmara (PSB) quanto a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) repudiaram a ação.

A RBA tem acompanhado de perto as discussões da campanha nacional Fora Bolsonaro. por isso, é testemunha dos fatos. Desse modo, a segurança sanitária e a energia positiva, e pacífica – das “trilhas sonoras” aos cartazes –, estão entre as principais diretrizes dos movimentos que organizam os atos.

São dezenas de organizadores civis e populares – da cidade e do campo, dos meios trabalhista e estudantil, dos movimentos por saúde, educação, habitação, direitos humanos, indígenas e por igualdade racial –, reunidas na Frente Brasil Popular e Frente Povo sem Medo. São entidades sindicais de diferentes perfis, como CUT, Intersindical, CSP-Conlutas. E são, além disso, vários partidos igualmente distintos, como PT, Psol, PCdoB, PSTU, PCO, UP. Sem contar os integrantes de correntes conservadoras que durante o ato de entrega do superpedido de impeachment de Bolsonaro, na quarta-feira (30), apoiaram o chamado às manifestações. Isso apesar de partidos como PSDB de Alexandre Frota, DEM de Kim Kataguiri e PSL de Joice Hasselmann não terem adotado essa orientação organicamente.

Portanto, a RBA pode cravar: nenhuma dessas correntes chegou a defender a mais remota hipótese de promover quebra-quebra, ações violentas e, por que não qualificar?, criminosas como as de ontem. O máximo de divergência apurada se deu quanto à data da manifestação e quanto à adoção de cores para marcar a posição dos atos.

Nesse quesito, alguns defendiam o uso do vermelho, com a alegação de que assim se afastaria o risco de os atos serem apropriados pela direita, como ocorreu em 2013. Outros fizeram questão de usar o verde e amarelo, como forma de resgatar as cores nacionais hipocritamente sequestradas pelos golpistas de 2016 e pelo bolsonarismo. Outros ainda propuseram o uso do preto, em expressão de luto pelos mais de 520 mil mortos diante da condução genocida da pandemia por parte do governo de Jair Bolsonaro. E registre-se, também, a presença intensa das cores que simbolizam os coletivos LGTBQI+ e a luta contra a homofobia.

Fora isso, nunca foi constatada divergência em relação às vibrações seguras e pacíficas dos atos. Se alguma organização de “esquerda” adotou alguma prática diferente, o fez isoladamente, e, portanto, à revelia da ampla frente de movimentos e partidos que conduzem o Fora Bolsonaro. Por exemplo, alguns integrantes do PCO chegaram a agredir pessoas do PSDB de Doria em São Paulo e do PDT de Ciro em Florianópolis, segundo observaram alguns militantes da campanha nacional. O PCO soltou nota acusando os tucanos de estarem “infiltrados” na manifestação. O PSDB também divulgou nota afirmando que “parte da esquerda não quer unir o país, quer expulsar o centro, e quer violência”.

Em sua conta no Instagram, a líder do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), Carmem Silva, relatou que companheiros do MSTC foram atacados por pessoas do PCO. Isso porque tentaram conter a briga. “Não aceitamos a agressão sectária de pessoas vestidas com as cores da revolução. Que tentam dividir o grande bloco contra as ameaças do fascismo. Não queremos mais ódio. Queremos um Brasil justo. Fora Bolsonaro!”, escreveu Carmen Silva.

Mas, apesar de estarem praticando um ato sectário e condenável contra militantes de outros partidos, não se atribuem ao PCO as cenas de vandalismo e violência explícita que marcaram o final do ato de São Paulo neste sábado de #3JForaBolsonaro. Aqui a hashtag é novamente mencionada de propósito, para lembrar que ontem, durante todo o dia, o bolsonarismo minguou, nas redes sociais. De acordo com análises divulgadas pelo pesquisador Fábio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o bolsonarismo ocupou apenas 9% das manifestações nas redes às 18h, mas cresceu para 25% depois do vandalismo da Consolação.

Sendo assim, retome-se a pergunta, com um acréscimo: a quem interessa tumultuar e estragar a imagem dos atos pelo Fora Bolsonaro, senão ao bolsonarismo? E mais: em qual setor das instituições da República o bolsonarismo está mais presente do que polícias militares estaduais? Por que a Polícia Militar de São Paulo afirmou, segundo a Folha de S. Paulo, que havia apenas 5.500 pessoas na manifestação de ontem na Avenida Paulista, enquanto da “motociata” pró-Bolsonaro de 12 de junho teriam participado 12 mil pessoas, segundo a PM?

São questões desafiadoras tanto para autoridades que comandam, ou deveriam comandar, suas polícias. E são também questões que devem pôr em alerta os organizadores da campanha nacional Fora Bolsonaro. Que é muito maior do que o bolsonarismo infiltrado nas polícias e do que o sectarismo de alguns militantes que se dizem de “esquerda”. Segundo os organizadores, #3JForaBolsonaro foi maior do que o #29M e o #19J, sobretudo pelo crescimento da adesão demonstrado por imagens de algumas capitais, como Rio de Janeiro e Brasília. E outra manifestação, pelo menos pro enquanto, já está programada par 24 de julho. Que até lá, a campanha já tenha respostas para essas questões, assim como receitas para solucioná-las.

Diario do Centro do Mundo

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