A quimera da “conciliação de classes”. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 25 de agosto de 2017 às 8:38
Lula e Renan em Alagoas

Eu sinceramente não acho que o problema do lulismo seja a “conciliação de classes”. Se for, vou ser o primeiro a atacar Lenin, que conciliou com a Alemanha nos acordos de paz de Brest-Litovsk (1918), entregando um terço do território russo sem disparar um tiro e de caso pensado.

Ou a NEP – Nova Política Econômica -, entre 1921-24, na qual chamou de volta os proprietários de terras para operarem num regime de mercado.

Ou ainda Chávez, que se proclamava socialista, mas fez a maior conciliação que se pode fazer à burguesia, que é a manutenção da propriedade privada dos meios de produção.

Um governo de esquerda sob o capitalismo, qualquer que seja, está fazendo “conciliação de classes”, a não ser que faça uma revolução. Mesmo assim, isso não garante que se vá muito longe nesse quesito.

“Conciliação de classes” é um genérico que não quer dizer muita coisa. Sob esse epíteto cabe tudo, se não detalharmos os problemas reais.

Se não faço conciliação de classes, não faço frente com absolutamente ninguém, além da esquerda radical. Frentes se fazem entre diferentes, com propósitos e metas comuns.

O problema do PT é quilômetros mais grave: o partido foi para o governo absolutamente sem projeto. Tanto que os governos lulistas foram erráticos.

O único que tem algo de aceitável de um ponto de vista de esquerda é o segundo (2006-10), que apresentou um leve ensaio desenvolvimentista.

No mais, a falta de programa não é característica apenas do PT.

Em 12 anos, o PSOL não tem programa nacional. Não consegue sequer ter posição clara sobre a cena mundial, em especial sobre China, Ucrânia, Síria e Venezuela.